Atrasos em compras de livros pelo governo amplia crise no setor
Editais adiados no país, além de programas suspensos em São Paulo, preocupam mercado, que vê ano difícil
Levantamento mostra que faturamento com vendas em livrarias teve retração de 4,75% no 1º trimestre deste ano
Atrasos nos pagamentos e em editais de compras de livros, além da suspensão de programas governamentais, vêm levando editoras a apertar os cintos num ano em que já é esperada alguma retração no mercado editorial.
Os principais programas do Ministério da Educação, o PNLD (didáticos) e o PNBE (literatura para bibliotecas escolares), passam por atrasos em diferentes níveis --no primeiro caso, o governo ainda não pagou todo o valor por livros adquiridos na virada do ano; no segundo, editais abertos estão em suspenso.
No município e no Estado de São Paulo, os maiores programas anuais de aquisição de livros para escolas ou alunos foram interrompidos, respectivamente, em 2011 e 2013.
Para além da possibilidade de prejudicar estudantes, os atrasos levam o mercado editorial a demissões e a redução nos lançamentos --é um mercado em que 37% do faturamento decorre das vendas para governos, segundo dados de 2013 do setor.
Na área de não didáticos, são quatro os editais federais com negociações atrasadas, totalizando R$ 261 milhões.Em alguns casos, os livros chegaram a ser escolhidos, mas a compra ainda não se concretizou --o edital mais atrasado data de 2012.
A indefinição tem impacto em editoras independentes, como a Peirópolis, que teve três livros listados em dois editais. A negociação levaria à impressão de ao menos 260 mil cópias, cuja venda renderia mais de R$ 2 milhões. Sem negociações, a Peirópolis teve de cortar 30% de pessoal e pode reduzir títulos em 2015 de 42 para 14.
Grandes editoras também preveem redução no ritmo. A Melhoramentos, que lançou 230 títulos em 2014, não deve passar de 180 neste ano.
"Os atrasos vêm em fase difícil. Sempre contamos com canais variados, como livrarias, catálogos, governo. Quando um ia mal, os outros compensavam. Do fim de 2014 para cá, todos tiveram queda", diz o superintendente da editora, Breno Lerner.
No maior programa do governo federal, o de livros didáticos, o problema está no atraso de pagamentos. Entre dezembro e fevereiro, 26 editoras entregaram 140 milhões de exemplares, pelos quais o MEC se comprometeu a pagar um total de R$ 1,15 bilhão.
A Abrelivros, que representa as editoras de didáticos, confirma pendências, mas não informa o valor. Segundo a Folha apurou, o governo deveria R$ 250 milhões, ou 20% do total. O MEC diz que o valor é menor.
Nas livrarias, editores preveem ano difícil. Nesta quarta (1º), o sindicato dos editores (Snel) divulga a primeira de uma série de pesquisas mensais, feitas pelo instituto Nielsen, comparando as vendas de 2015 com as de 2014, medidas em lojas cujas vendas correspondem a 63% do total das livrarias no país.
Os resultados agora apresentados, relativos ao primeiro trimestre dos dois anos, apontam para retração de 4,75% no faturamento, considerada a inflação.
No volume de vendas, houve aumento de 3%, com 280 mil exemplares a mais no primeiro trimestre de 2015. Mas o dado positivo pode resultar de ponto fora da curva: "Nada a Perder 3" (Planeta), de Edir Macedo, que saiu em outubro. Só em janeiro deste ano, o livro vendeu cerca de 300 mil cópias em livrarias, segundo o site Publishnews.