Crítica Literatura/poesia
Saturados de sentimentalismo, poemas possuem estrutura kitsch e imitativa
Mário Faustino afirmava nas suas páginas de crítica: "soneto é hors-d'oeuvre".
Queria demonstrar, contundente, que o prato principal da obra de um poeta não poderia ser apreciado por meio da tradicional forma fixa: o vigor estaria na singularidade e, quando fosse o caso, no aparecimento de novas formas.
Em outras palavras: é o poeta quem cria uma forma, e não o contrário.
Os "Sonetos Sentimentais pra Violão e Orquestra", de Paulo César Pinheiro, permitem discutir as questões acima e provocar outras.
O poeta é conhecido letrista do cancioneiro popular do Brasil, autor de "Viagem", "Eu, hein, Rosa!", "Canto das Três Raças", entre tantas outras que apontam para frondosa diversidade.
No título do seu livro de sonetos, porém, o poeta salienta os aspectos "sentimentais" e anota, como um compositor, que as formas fixas seriam "pra violão e orquestra".
Não há dúvida quanto ao sentimentalismo dos sonetos de Paulo César Pinheiro: quase sem exceção, os mais de 200 exemplares reunidos no livro tratam do amor, da mulher, do desejo, do sexo e de uma exposição rebarbativa do eu do poeta com notas emocionais e intensas.
As palavras "amor" e "coração" conduzem, na prática, a quase totalidade dos sonetos do livro --ao ponto da saturação. A musicalidade dos versos é muitas vezes prejudicada pela métrica, nem sempre dominada à perfeição.
Para muitos poetas,o soneto se confunde a uma percepção idealizada do poema e da própria poesia: como se o soneto exigisse a exacerbação do sentimentalismo e a catarse romântica.
Nesse sentido, os sonetos de Paulo César Pinheiro se transformam numa estrutura kitsch e imitativa.
SONETOS SENTIMENTAIS PRA VIOLÃO E ORQUESTRA
AUTOR Paulo César Pinheiro
EDITORA 7Letras
QUANTO R$ 39 (220 págs.)
AVALIAÇÃO regular