Depoimento
'Mais que um pai, era um mago que tornava visível o invisível'
Meu pai é mais do que um pai. Ele foi um mestre para muita gente. É uma mistura de tristeza e orgulho ser filho de Antônio Abujamra, um ícone para os filhos, para o teatro e para a arte do Brasil.
É um momento muito delicado, mas ao mesmo tempo bonito, saber que meu pai era uma pessoa tão querida. Ele era um provocador. A primeira frase que lembro que ele falou para mim foi: "A vida é sua, estrague-a como quiser".
Ele foi um grande mago, um grande professor. Um grande bruxo. É como ganhar na Mega-Sena ser filho do Antônio Abujamra. Acho que a lição que ele me deu é tornar visíveis as coisas invisíveis.
Ele sempre foi um artista. A educação que me deu foi lúdica. Era impossível vê-lo só como o meu pai. Eu o via como um diretor de tantas coisas belas, um criador.
Ele morreu que nem um passarinho. A gente perdeu minha mãe [Cibélia] faz dois anos. Desde então, meu pai andava triste. Mas ele é filósofo, continuou trabalhando.
A gente ia visitá-lo e ele estava sempre conversando com as árvores. Ele sempre via as coisas de ponta-cabeça e sempre foi um provocador, no sentido de fazer as pessoas mudarem a cabeça para conseguir viver, ver a vida. Para conseguir flutuar, levitar um pouco. E deixar de ver as coisas com tanto peso.
Falei com ele ontem, pela última vez, ao telefone. Ele estava em uma fase muito carinhosa. No domingo (26), foi aniversário do meu irmão e comemoramos juntos. Foi uma despedida muito bonita. É duro, mas é isso. É complexo perder um pai da magnitude de Antônio Abujamra.
Lanço agora o disco "O Homem Bruxa", completamente para ele, por causa dele. De certa forma, foi uma coisa premonitória minha. De certa forma, é um presente.