Gangue 90
Mestres do conto e dois dos maiores escritores do país, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca completam ativos a nove décadas de vida; saiba como vivem e o que escrevem
As narrativas que os consagraram são curtas, bem diferente do fôlego dos dois autores, longuíssimo: nos próximos dias, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca chegam aos 90 anos ainda ativos, produtivos e ligeiros.
Dois dos maiores contistas do país, e sem dúvida na restrita lista dos nossos maiores escritores vivos em qualquer gênero, Rubem --que faz aniversário na segunda (11)-- e Dalton --que se iguala ao colega em 14 de junho--, têm muito mais a os unir.
Tidos como os "Salingers brasileiros", pela notória reclusão e aversão aos holofotes, ambos nortearam suas obras nas disfunções do universo urbano. No caso de Dalton, saltam aos olhos os conflitos conjugais e o sexo; no de Rubem, a violência, o crime e também o sexo.
Eles estrearam na literatura com apenas alguns anos de diferença --Dalton em 1959, com "Novelas Nada Exemplares"; Rubem em 1963, com "Os Prisioneiros". Os dois livros formaram juntos um sopro de renovação na literatura urbana brasileira.
Bonés enterrados nas cabeças compõem o figurino cotidiano dos dois, um dos artifícios utilizados para flanar por suas cidades sem serem percebidos.
No outono da vida, uma diferença os separa, segundo os críticos. A obra de Dalton, o Vampiro de Curitiba (o escritor ganhou como apelido o título de seu mais famoso livro), tema de um seminário que começa nesta quinta (7) na USP, continua excelente. Ele é tema de seminário que começa nesta quinta (7) na USP.
Já Rubem, em seus últimos livros, está muitos muitos degraus abaixo da produção que o consagrou a partir dos anos 1960 e 1970--o recém-lançado "Histórias Curtas" confirma a tendência.
De toda forma, a trajetória dos dois é um legado inestimável para as novas gerações.
"São dois contistas fundamentais na literatura brasileira. Eles inventaram o conto urbano contemporâneo. São dois contistas fundamentais na literatura brasileira", diz o também contista André Sant'Anna.
Terceiro integrante da tríade de grandes contistas do país, Sérgio Sant'Anna (pai de André) comentou, a pedido da Folha, a obra dos colegas.
Nos últimos dias, a reportagem esteve no Rio de Rubem e na Curitiba de Dalton, as cidades que são parte indissociável de suas obras.
Travou breves contatos com os dois (abordado, Dalton negou ser Dalton e disse que não faz aniversário) e entrevistou dezenas de pessoas que convivem com eles e ajudaram a compor uma breve narrativa dos mestres das narrativas breves.