'Guia dos Curiosos' ganha nova edição aos 20 anos
Fenômeno pop dos anos 90, almanaque atualiza informações excêntricas
Pesquisas pré-internet envolveram visitas a bibliotecas e sessões seguidas de filme com Schwarzenegger
"A curiosidade faz o leitor." Este era o título do texto da Folha que noticiava, em 28 de maio de 1995, a chegada de "O Guia dos Curiosos" ao topo da lista dos livros mais vendidos.
O almanaque do jornalista Marcelo Duarte completou 20 anos no domingo (10). Agora, ganha edição comemorativa --revista e atualizada.
Editado pela Panda Books, fundada por Duarte em 1999, o título saiu antes pela Companhia das Letras. Foi o 6º livro de não ficção mais vendido em 1995. (Para os curiosos: o campeão foi "Anjos Cabalísticos", de Mônica Buonfiglio.)
Em duas décadas, o livro se tornou um fenômeno pop. Vendeu 265 mil exemplares, contando uma outra edição de 2005. Virou jogo de tabuleiro, chiclete e card do chocolate Surpresa, da Nestlé.
"[O sucesso] foi tamanho a ponto de o Luiz Schwarcz [editor da Companhia das Letras] ligar dez dias depois: 'Acabou a primeira edição, já vamos reimprimir. Pensa em outro'."
"O Guia dos Curiosos" nasceu de um estalo do autor, então editor da "Veja São Paulo". Colecionador de curiosidades, guardava --ainda o faz-- recortes com dados surpreendentes. Em 1994, numa viagem a Olímpia (438 km de SP), encontrou a "Enciclopédia Curiosidades" (1962), de Valmiro Rodrigues Vidal, empoeirada na casa de uma tia. Eureca: por que não atualizá-la?
Por um ano, Duarte questionou coisas banais, "que temos medo de perguntar e cair no ridículo". Encontrar as respostas, porém, quase sempre era sinônimo de perrengue na era pré-internet, com buscas em bibliotecas e acervos.
Para descobrir nomes dos filhos de todos os presidentes do Brasil, foi ao Colégio Brasileiro de Genealogia, no Rio --os membros, incomunicáveis por telefone, só se reuniam uma vez por mês, à noite.
E calcular a média de vítimas que Arnold Schwarzenegger mata nos filmes exigiu que visse duas sessões seguidas de um mesmo longa.
Na nova versão do guia, o autor incluiu dados da cultura pop dos últimos 20 anos, como a biografia de Bob Esponja e o número atualizado de casamentos da cantora Gretchen (17 vezes, até o momento).
Uma das descobertas mais legais, segundo Marcelo Duarte, foi saber que calçava o mesmo número (41) do primeiro homem a pisar na Lua.
O autor diz, porém, que sua obra é menos um grande passo para a humanidade do que uma sacada. "Não inventei a roda. Só resgatei um gênero tradicional: o almanaque, que todos tinham em casa."