Musicais para os olhos
Espetáculos que estreiam em São Paulo reproduzem vida e obra de Charles Chaplin e Federico Fellini Maria Luísa Barsanelli
O PALHAÇO
A imagem mais marcante do cineasta inglês Charlie Chaplin (1889-1977) é a de seu personagem Carlitos, ou o Vagabundo, um sujeito ingênuo e de trejeitos engraçados.
Chaplin buscou nas ruas a inspiração para o papel, cuja personalidade diferia muito da do diretor, "uma figura complexa, muito tímido, muito difícil, muito louco pelo poder", diz a atriz Claudia Raia.
É ela quem produz "Chaplin, o Musical", que estreia nesta quinta (14), em São Paulo, e conta a vida do cineasta, da infância à velhice.
Versão do musical da Broadway, de 2012, o espetáculo chega com modificações. Foram incluídas cinco músicas --escritas pelo compositor da obra original, Christopher Curtis, a pedido da produção brasileira-- e feitas alterações no texto. "Mexemos em uns 30% da peça", diz o diretor Mariano Detry. "Tentamos deixar as cenas mais dinâmicas."
Assim, criou-se um palco que remete a um set de filmagens, e as mudanças de cenas são feitas sem cortes bruscos, ficando a cargo dos atores algumas trocas de cenários.
Para viver Chaplin, Jarbas Homem de Mello emagreceu 8 kg. "Tentei me aproximar do tipo físico dele, até porque o cara fazia muita coisa: andava na corda bamba, de patins, fazia circo, balé", conta o ator, que teve aulas de patins, circo, violino e até "slackline" (andar sobre o elástico).
VAN GOGH
Tendo um pai alcoólatra e uma mãe doente, Chaplin foi criado com a ajuda do irmão mais velho, Sydney. Começaram a atuar juntos, mas, com o sucesso de Charlie, Sydney assumiu o papel de agente, sendo responsável pelos contratos do irmão.
"Pouca gente sabe a importância de Sydney na carreira de Chaplin", diz Marcello Antony, que interpreta o irmão mais velho no musical. "Gosto de compará-los aos irmãos Van Gogh. [O pintor holandês] Vincent não seria quem foi se não fosse por seu irmão, Theo."
Após um início da carreira no teatro de vaudevile, em Londres, Chaplin vai para Hollywood, em 1913, a convite do produtor Mack Sennett, dos estúdios Keystone.
"Foi Sennett quem forçou a barra de Chaplin e disse: 'Se você não for engraçado, está na rua'. Isso fez Chaplin criar Carlitos", conta Paulo Goulart Filho, intérprete do produtor.
Em cena, há bastidores de filmagens e referências a passagens famosas de filmes, como aquela em que Chaplin faz pães dançarem, no longa "Em Busca do Ouro" (1925), ou quando o protagonista de "O Grande Ditador" (1940) brinca com um globo terrestre.
O musical também revê como o diretor se adaptou do teatro ao cinema e, posteriormente, à chegada do cinema falado. Chaplin entrou em conflito com o som, relata Antony. "Mas encontrou na voz um viés político, que usou em 'O Grande Ditador'."