Crítica teatro/drama
Montagem cria um interessante jogo de manipulação, mas se perde no didatismo
A engenhosidade de "Consertando Frank", texto do americano Ken Hanes encenado por Marco Antônio Pâmio, é uma característica que se impõe na criação. Todo drama é uma construção, claro, mas este em específico revela-se eficiente e excessivamente esquemático.
A peça se desenvolve em torno de um trio. Dois psicoterapeutas tornaram-se adversários durante a vida. Um deles, Jonathan (Rubens Caribé), se casou com Frank (Chico Carvalho), um repórter.
O outro, Dr. Apsey (Henrique Schafer), alardeia seu método para "curar" gays. Jonathan instiga Frank a fingir-se de paciente para desmascarar Apsey, que habilmente vai virar a partida.
Esse mote revela-se em um jogo não só temático mas também formal. No meio de campo, entre dois sujeitos manipuladores, está Frank. Volúvel, ele passará por uma série de transformações, com desempenho excepcional de Carvalho.
A questão formal aqui é óbvia e roça inclusive a metalinguagem, uma vez que Frank exemplifica em cena o resultado de uma metodologia: como criar um personagem? Há inúmeras formas de fazê-lo, e a peça opta por expor a cartilha a que comumente os roteiristas de TV se dedicam, cheia de didatismo.
Quando está no escritório de Arthur, Frank replica (e também transforma) o discurso de Jonathan. Quando está com Jonathan, ocorre o inverso, são as palavras de Arthur que passam a ganhar novas formas na boca do personagem central.
Desse conserto de Frank, nasce uma estranha marionete, e é bem legal vê-la ganhar vida em determinado momento, como um Pinóquio.
Há algo fabulosamente inteligente na peça mas que acaba subaproveitado a partir de um ponto, mais ou menos no meio do espetáculo, quando o jogo já está exposto. Em algum momento, a trama deixa de validar Frank como personagem central e dá mais espaço à disputa entre os outros dois personagens.
A montagem então perde fôlego no final, aparentemente escrito para dar ao espectador a chance de perceber como tudo foi maquinado com acuidade.