Crítica Cinema/Documentário
Filme traça panorama multifacetado do cangaço
Retrato de ex-integrantes do bando de Lampião traz colorido a um tempo em que a pobreza nutria explosões sociais
"Ladrão!", gritava o policial, enquanto batia no jovem acusado de furtar um carneiro. "Cidadão!", rebatia o preso, negando o crime.
A prisão e a tortura foram o estopim para que Antônio Ignácio da Silva deixasse Brejo Santo, no sertão do Ceará. Aderiu então às tropas de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, em 1930. No bando, seu nome virou Moreno.
Responsável por mais de 20 mortes, escapou do cerco ao grupo e fez vida nova com Durvalina Gomes de Sá, a Durvinha, integrante do bando. A moça era apaixonada por Virgílio, mas este foi morto, abrindo espaço para Moreno.
A trajetória do casal só foi desvendada em 2006, quando eles resolveram contar publicamente suas aventuras. Agora, a história está em "Os Últimos Cangaceiros", do cearense Wolney Oliveira.
Baseado no depoimento dos dois, o documentário usa filmes clássicos sobre o cangaço. Está lá a preciosidade do libanês Benjamin Abrahão (1890-1938), o único a filmar, em 1936, o bando de Lampião.
Durvinha sente falta da figura jovem, brejeira e vibrante que foi. Ainda lamenta a ausência de Virgílio, e o romance fugaz deu lugar a uma cômoda convivência resignada.
As entrevistas são mescladas com falas de amigos, parentes, estudiosos e policiais que reprimiam os bandoleiros. A fita traça um panorama multifacetado do movimento, carregado da ambiguidade entre heroísmo e bandidagem.
Moreno (1910-2010) e Durvinha (1915-2008) não arriscam análises sobre o que fizeram. Contam a crueza das vidas, a fome, a fuga, o abandono de filhos. Embora simpático aos velhinhos, o filme não deixa de tratar do lado perverso da turma. Falam de crueldade, assaltos, matanças.
Sem se aprofundar em questões políticas e sociais, o longa é um documento. As histórias dos cangaceiros trazem colorido a um tempo em que a pobreza e a violência produziam deserdados errantes e nutriam explosões sociais.
OS ÚLTIMOS CANGACEIROS
DIREÇÃO Wolney Oliveira
PRODUÇÃO Brasil, 2011, 14 anos
QUANDO estreia nesta quinta (28)
AVALIAÇÃO bom