'Consigo fazer qualquer música', afirma sambista
Nei Lopes, 73, é autor de sambas antológicos, como "Senhora Liberdade". Esta não é a primeira vez nem deve ser a última em que trabalha com musical.
Já em 1989 criou a revista "Oh, que Delícia de Negras!". E, para 2017, prepara "Samba dos Santos".
Folha - Como foi o processo de compor para "Bilac"?
Nei Lopes - As autoras me ajudaram, fizeram sinopses. Comecei com letra, minha especialidade. Não escrevo música em pauta, então é mais complicado. Fiz 18, estão em cena 15. São estilos da época, princípio do século 20.
Quais?
Olha, tem lundu, polca, xote. Recorri à memória. Sou filho de pais nascidos no século 19. Gosto de Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, e ouvi mais ainda, para captar algumas chaves.
Chiquinha fazia musical.
Para os músicos da época, a grande possibilidade de escoamento era o teatro. Eles têm profunda carga cênica, e eu mergulhei por aí. Sou sambista, mas posso fazer qualquer tipo de música.
Se pedissem e remunerassem devidamente, faria dois ou três pop rocks por dia desses que rolam por aí. [risos] Já fiz isso, jingle de publicidade.
Como você vê as montagens da Broadway no Brasil?
Acho que é um [crime de] lesa-pátria. Os caras cometem, não um ilícito, claro, mas usando o sentido figurado... Porque vão buscar lá, imediatistas, sem dar oportunidade ao universo de autores que o Brasil tem, de ganhar o seu dinheirinho [risos].