Cinemateca perde 50% dos funcionários
Instituição que cuida do acervo de cinema do Brasil será mantida por metade dos cerca de 80 que trabalham hoje
Ministério da Cultura recorre a organização no Rio e diz que 'equipe do quadro efetivo' irá gerir a casa em SP
Em meio a uma crise administrativa que se arrasta desde 2013, a Cinemateca passará por mais uma redução em seu quadro de funcionários.
A partir de segunda (1º), a instituição responsável pelo acervo cinematográfico do país, sediada na Vila Clementino, na zona sul de São Paulo, será mantida por metade dos cerca de 80 funcionários que hoje trabalham lá.
O laboratório de imagem e som, responsável pela restauração de títulos, por exemplo, ficará com apenas duas pessoas --hoje há sete. Só uma pessoa cuidará da catalogação, hoje tocada por seis.
A orientação que os funcionários restantes receberam da nova diretora, Olga Futemma, é a de manter o atendimento ao público, ou seja, responder a pedidos de pesquisadores, manter a biblioteca aberta e exibir filmes. Até 15/6, a Cinemateca faz uma retrospectiva de filmes do cinema novo.
O encolhimento se segue a outras reduções --há dois anos, havia o triplo de trabalhadores-- e é resultado de um remendo feito em 2014 pelo Ministério da Cultura, responsável pela Cinemateca. Na época, a pasta era comandada por Marta Suplicy; hoje, o ministro é Juca Ferreira.
Para contratar os funcionários que deixam a casa agora, o Ministério da Cultura havia recorrido a um convênio com a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), organização social ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia que, entre outros projetos, implanta cinemas em universidades e exibe filmes do acervo da Cinemateca. Nesta sexta (29), acaba o contrato entre a Cultura e a RNP.
Segundo João Brant, secretário-executivo do Ministério da Cultura, a Cinemateca será mantida "com os serviços da sua equipe do quadro efetivo".
AUDITORIA
Até ser deflagrada a crise de 2013, a Cinemateca era gerida por meio de uma entidade sem fins lucrativos, a SAC (Sociedade Amigos da Cinemateca). Mas o Ministério da Cultura congelou repasses à SAC em fevereiro daquele ano, quando a Controladoria-Geral da União abriu uma auditoria para investigar convênio entre os órgãos que havia movimentado R$ 105 milhões.
Agora, a solução para contratar funcionários após o fim do convênio com a RNP será valer-se de outra organização social, desta vez ligada ao Ministério da Educação, mas com recursos do próprio Ministério da Cultura. É a Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto), que geriu a emissora pública TVE no Rio de Janeiro.
"Não há posição definitiva sobre isso", afirma Brant. Ismail Xavier, professor de cinema da USP e conselheiro da Cinemateca, avalia o mecanismo como "emergencial" e "de transição".
A longo prazo, o que o Ministério da Cultura quer é criar uma nova organização social para gerir a Cinemateca, processo iniciado na gestão passada por Marta. Segundo Brant, a proposta de criação da organização está em análise técnica e jurídica.
As organizações sociais são entidades privadas que fazem contratos de gestão com o governo e têm autonomia administrativa. O PT era historicamente contrário ao modelo, visto como uma forma de privatização indireta, mas vários de seus políticos em cargos do Executivo vêm o adotando.
À Folha, em fevereiro, Juca Ferreira defendeu o mecanismo. "Não existe só o uso da OS para privatizar. Pode ser também para agilizar a administração pública", afirmou.