Carlos Lemos recebe homenagem aos 90 anos
Arquiteto que executou obra do Copan terá sua carreira relembrada em evento em SP
"Meu amor por São Paulo é indestrutível. Mas sofro com a cidade tão mal cuidada." Aos 90 anos, Carlos Lemos, um dos arquitetos que mais refletiram sobre a metrópole, justifica com essa frase seus novos projetos --um livro sobre como nasceram as cidades do país e outro sobre os sobrados erguidos na capital paulista nos séculos 18 e 19.
Nesta terça (2), o arquiteto que executou o plano de Oscar Niemeyer para o edifício Copan, trabalhou durante décadas nos órgãos de preservação do patrimônio histórico e até o ano passado deu aulas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP será homenageado em cerimônia no Museu da Casa Brasileira.
Lemos, aliás, é um dos fundadores da instituição nos Jardins. No evento organizado por sua mulher, Clara Correia d'Alambert, sua trajetória como arquiteto, professor e artista plástico será relembrada.
Em seus 65 anos de carreira, Lemos escreveu uma série de livros, entre eles "Dicionário da Arquitetura Brasileira", "Arquitetura Burguesa", "Casa Paulista" e "Ramos de Azevedo e Seu Escritório", vencedor do prêmio Jabuti de 1994.
Seu último volume, "Da Taipa ao Concreto", lançado há dois anos pelo Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha, reúne crônicas sobre arquitetura escritas por Lemos na imprensa, em especial na Folha, ao longo de anos.
Nesses textos, ele destrincha suas principais preocupações em relação à metrópole, destacando o planejamento urbano e a gestão do patrimônio histórico, que enxerga hoje como uma "calamidade".
"Tem pichador que lambuza a cidade toda com aquelas letras horrorosas", diz Lemos. "A cidade vai tomando cores e aspectos inusitados, de modo que um mexe no que o outro fez. O patrimônio não é respeitado de maneira alguma. Fiquei meio pessimista."
Nesse sentido, seu livro sobre os sobrados construídos antes da época do café em São Paulo será mais um capítulo de seus estudos sobre as origens da cidade. "Os sobrados eram mantidos com o dinheiro do açúcar", conta. "Antes de o café chegar, eles continuavam a usar taipa de pilão."
Já nos tempos do concreto, Lemos também critica a implementação das ciclovias, vitrine da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Na opinião do arquiteto, o problema não é a criação dessas vias, mas o fato de não haver um planejamento melhor para o traçado delas na cidade. (Silas Martí)
CARLOS LEMOS
QUANDO nesta terça (2), às 19h30
ONDE Museu da Casa Brasileira, av. Brig. Faria Lima, 2.705, tel. (11) 3032-3727
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