Mostras em SP destacam obra de Judith Lauand
Única mulher do grupo Ruptura, ela ficou conhecida como grande dama do concretismo
Quem vê o menino loiro de olhos azuis que Judith Lauand retratou numa tela em 1950 não imagina que a pintora ficaria conhecida como a grande dama da arte concreta.
Nessa tela, agora ao lado de outros cem trabalhos no Museu Belas Artes de São Paulo e no Instituto de Arte Contemporânea, nada indica que Lauand, 93, trocaria esse figurativismo dócil pela geometria.
Mas, dando uns passos na mostra, fica claro como ela foi abandonando traços meio expressionistas e figuras estilizadas para chegar à limpeza absoluta de suas composições de fato concretistas.
Única mulher do grupo Ruptura, formado por Waldemar Cordeiro em 1952, Lauand se firmou na década de 1950 com um projeto plástico de extremo rigor e certa leveza.
Nesse sentido, as paisagens bucólicas do interior paulista, onde nasceu, vão cedendo lugar a linhas soltas, setas e losangos que flutuam no espaço, embora as estruturas das telas parecem seguir por um tempo os arranjos espaciais dos primórdios de sua obra.
É o caso de uma tela em que uma vaquinha aparece no centro de um turbilhão de casas e campos que se aproximam de uma geometria pura. Logo depois, ela criou uma tela em que losangos flutuam ao redor de outra forma, evocando aquele mesmo movimento concêntrico.
Lauand, aliás, foi menos esquemática do que o resto do grupo concretista. Com linhas mais soltas e uma paleta mais ampla, que ia muito além das cores primárias, sua obra se aproxima dos experimentos de Hércules Barsotti e Willys de Castro, artistas que viviam em São Paulo, mas flertavam com o neoconcretismo que surgia no Rio de Janeiro.
Suas pinturas sobre chapas sobrepostas de aglomerado de madeira, por exemplo, também deixam o plano bidimensional da tela para adentrar o espaço arquitetônico, mostrando sua sintonia com as pesquisas então em voga.
Mas talvez o lado mais belo da obra de Lauand seja também o mais simples --a série que chamou de "Concreto", linhas puras sobre fundos de uma única cor chapada, estão em peso na mostra.
JUDITH LAUAND
QUANDO no IAC, de seg. a sex., das 10h às 18h, sáb., 10h às 16h; no MuBA, seg. a sex., das 10h às 20h, sáb., das 10h às 16h; até 25/7
ONDE Instituto de Arte Contemporânea, r. Dr. Álvaro Alvim, 90, tel. (11) 3255-2009; Museu Belas Artes de São Paulo, r. Dr. Álvaro Alvim, 76, tel. (11) 5576-7300
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