Crítica cinema/drama
Com trama simples, búlgaro constrói tragédia exasperante
Premiado em San Sebastián, 'A Lição' tem trama baseada em notícia de jornal
O que se conhece, no Brasil, do cinema da Bulgária? Os cinéfilos mais dedicados talvez conheçam alguns filmes de Christo Christov (1926-2007), o maior dos cineastas búlgaros, e pouco mais.
Pois é desse país do leste europeu, na antiga Cortina de Ferro, que vem o interessante "A Lição", de Kristina Grozeva e Petar Valchanov, premiado no Festival de San Sebastián, na Espanha, em 2014.
Inspirada numa notícia de jornal, a trama é bem simples, passa por questões sociais e tem parte do elenco formado por amadores.
Por isso já foi associada ao neorrealismo italiano.
Certamente esse importante movimento cinematográfico concebido por Zavattini é uma referência, mas o filme não abdica de uma forte relação com o mundo atual, numa linha que passa pelos irmãos Dardenne e pelo recente cinema romeno.
Uma professora descobre que o dinheiro do lanche de uma aluna foi roubado. Num breve processo inquisitório, ela passa então a procurar o culpado, de preferência provocando a sua confissão. Desencadeia assim uma baita tensão na sala de aula.
No lar, a coisa também está tensa. O marido é alcoólatra, eles têm dívidas e uma filha pequena para criar. Pedem empréstimos para poder pagar outros empréstimos, criando uma bola de neve incontrolável.
Ao desagradável episódio da sala de aula soma-se um drama exasperante sobre a fragilidade de nossa situação num mundo movido principalmente pelo dinheiro.
Na construção que privilegia a inflexão dos atores, há espaço para vilões de ocasião (tratados de forma exagerada, como a nova namorada do pai e principalmente o agiota) e para alguns equívocos de julgamento.