Crítica cinema
Início agradável de filme desaba em final frouxo e muito moralista
A primeira impressão é a de um filme agradável, como há muito quase nunca se vê: em "Minha Querida Dama" há um americano que chega a Paris para reclamar sua herança, um apartamento magnífico. Logo em seguida, dá-se o encontro com Mathilde Girard, a velha senhora que vive no lugar.
Ao primeiro contato e suas dificuldades, segue-se a constatação de que não será tão fácil a Mathias Gold (Kevin Kline) livrar-se da inquilina (Maggie Smith).
Ela vendeu a propriedade ao pai de Mathias com base em um sistema francês muito particular: o preço é mais em conta, mas o comprador se obriga a pagar um aluguel ao vendedor até a sua morte.
Ora, a senhora Girard está com 92 anos e nenhuma intenção de morrer tão cedo. Pior: logo descobrimos que o americano está para lá de quebrado, e toda sua esperança na vida é livrar-se do apartamento. Com a senhora Girard por lá, o intento não será nada fácil.
INCOVENIENTES
Mais difícil ainda será o relacionamento entre Mathias e Chloé (Kristin Scott Thomas), a filha da senhora Girard. Ao menos no início, pois o tempo vai trazer algumas revelações inconvenientes, tais como o fato de que a senhora Girard foi, por longos anos, amante do pai de Mathias. E que, talvez por sentir-se desprezada, a mãe de Mathias suicidou-se.
O roteiro de Israel Horovitz, também diretor do filme e autor da peça teatral na qual a produção é inspirada, não foge à norma de certa dramaturgia americana, que evolui tanto quanto os personagens revelam certos segredos de sua vida.
No entanto, Horovitz destoa dessa tradição pela reivindicação fortemente moralista de seu texto.
Mathias expressa esse sentimento com todas as letras: o que seu pai e a senhora Girard fizeram é errado.
É errado porque causa danos a terceiros (os filhos, entre outros). O certo seria, então, renunciar ao desejo pelo bem geral.
CONSERVADORISMO
Essa é a postura do filme. Suas decorrências são, inevitavelmente, conservadoras. Pode-se dizer que estão alinhadas com o conservadorismo corrente. Mas elas são também banais.
E este filme que começa prometendo momentos agradáveis termina por se arrastar, frouxo e previsível.
Dito isto, "Minha Querida Dama" é um filme a serviço de suas estrelas. Que são bons atores, claro.
MINHA QUERIDA DAMA
(My Old Lady)
DIREÇÃO Israel Horovitz
ELENCO Kevin Kline e Maggie Smith
PRODUÇÃO EUA/França, 2014, 14 anos
QUANDO em circuito
AVALIAÇÃO ruim