Flip
Apesar de cortes, número de palestras não diminuiu
Programação principal terá 42 escritores, número similar ao dos últimos anos
Orçamento menor, no entanto, motivou a troca de músicos famosos por artistas locais no show de abertura da festa literária
Apesar dos cortes deste ano, a programação da Flip não foi afetada, com o mesmo número de autores de edições anteriores. São 17 internacionais, como o italiano Roberto Saviano e o irlandês Colm Tóibín, e 25 nacionais, como José Ramos Tinhorão e Hermínio Bello de Carvalho.
"Não abrimos mão de nada do ponto de vista do que o público recebe como experiência cultural", diz Mauro Munhoz, diretor da Casa Azul, que organiza o evento.
Segundo o tradutor e editor Paulo Werneck, 37, curador da programação principal desde o ano passado, não houve nenhuma orientação no sentido de reduzir gastos.
"Temos um grupo interessante de escritores reunidos, incluindo dez poetas de língua portuguesa. Não creio que vão ficar chorando pela crise, e sim fornecer as respostas que a arte dá à crise."
O interesse do homenageado desta edição, Mário de Andrade, pela música levou a curadoria a priorizar vários pesquisadores da área e compositores, como Tinhorão, Jorge Mautner e Arnaldo Antunes.
Os escritores não recebem cachê do evento --a Flip paga apenas passagem, hospedagem e alimentação; em alguns casos, as editoras pagam extras. O show de abertura, no entanto, sempre teve cachês de, em média, R$ 30 mil --a exceção foi Gilberto Gil, que recebeu R$ 50 mil para a apresentação de 2013.
Em maio, ao anunciar sua programação, a Flip quebrou a tradição de divulgar ao mesmo tempo o show de abertura. Àquela altura, a organização não sabia ainda se conseguiria captar os R$ 7,4 milhões e chegou a cogitar abrir mão do espetáculo.
Só na semana passada foi anunciado que o paratiense Luís Perequê, que já abriu para Luiz Melodia e Gil no evento, faria desta vez o comandando o show, junto a artistas locais e à cantora paulistana Dani Lasalvia. Perequê receberá pouco mais de R$ 10 mil.
"Fui escolhido porque eles já conhecem o meu trabalho e porque sou de Paraty. Mas é claro que há uma questão econômica. Estamos numa crise incrível e a Flip precisou enxugar os cachês. A gente não pode esperar que um artista regional receba o mesmo que Gil e Gal", diz ele.
Com a perda de apoiadores como a Oi, mais ingressos foram colocados à venda, já que foi reduzida a cota de patrocinadores. Os ingressos para o público passaram de 13 mil em 2014 para 14 mil neste ano, com o valor reajustado de R$ 46 para R$ 50.
Segundo Munhoz, foi por esse aumento no número de ingressos que as mesas demoraram mais a terem lotação esgotada. Em 2014, as entradas acabaram em dois dias. Nesta sexta (26), havia ainda tíquetes para oito mesas, incluindo a do dramaturgo britânico David Hare e a de José Miguel Wisnik sobre Mário de Andrade.