Leitor madruga em fila nos EUA por novo Harper Lee
'Go Set a Watchman' ficou em primeiro lugar na Amazon americana; edição brasileira chega só em outubro
Após mais de cinco meses de polêmicas, o novo livro da norte-americana Harper Lee, "Go Set a Watchman", chegou nesta terça-feira (14) às livrarias de 70 países em sete idiomas diferentes.
Leitores enfrentaram filas nos Estados Unidos, onde ocorreram eventos para o lançamento mais aguardado do ano, como maratonas de leitura e bufês de comida sulista. Livrarias de diversos países passaram a madrugada abertas para atender aos fãs.
O romance foi o livro mais pré-vendido pela Amazon desde 2007, quando o último "Harry Potter" foi publicado, e, nesta terça, estava no topo das listas de livros impressos e e-books da loja.
A editora americana HarperCollins fez uma tiragem de dois milhões de cópias. Ela trata "Go Set a Watchman" –escrito em 1957 e rejeitado pelo editor de Lee na época– como continuação de "O Sol É para Todos", clássico que vendeu mais de 40 milhões de cópias desde 1960 e foi adaptado com sucesso para o cinema dois anos depois.
A José Olympio, que programava o livro para o final de julho, agora diz que publicará a tradução, por Beatriz Horta, em outubro, com o título "Vá, Coloque um Vigia".
A edição em inglês, no entanto, já está à venda na Saraiva da capital paulista (a rede não informa números de vendas) e deve chegar às lojas da Cultura na próxima semana. Disponível também na loja brasileira da Amazon, não entrou nem entre os 9.000 mais vendidos.
Às vésperas do lançamento, Tonja Carter, a advogada de Lee, explicou, em texto no jornal "The Wall Street Journal", como teve contato com o romance. Disse ter localizado o original em outubro de 2011, e não em agosto de 2014, como afirmara antes.
Charles Shields, o biógrafo de Lee, diz acreditar que Alice, a irmã da autora, foi quem proibiu a publicação de "Go Set a Watchman", finalizado em 1957. Alice morreu em novembro passado.
Autoridades do Estado do Alabama, onde Lee vive num asilo, arquivaram uma investigação para saber se a advogada manipulara a escritora. Eles concluíram que Lee, 89, vítima de problemas sérios de audição e visão, teria consciência do lançamento de "Go Set a Watchman" 55 anos depois de "O Sol É para Todos".
Carter sugeriu a existência de "um terceiro livro unindo os dois". Em fevereiro, quando se anunciou a descoberta de "Go Set a Watchman", Andrew Nurnberg, o agente de Lee, disse que o objetivo da autora era criar uma trilogia.
Por sugestão de sua editora, ela reescreveu "Go Set a Watchman" até transformá-lo em "O Sol É para Todos". No segundo livro, ambientado nos anos 1930, Atticus, um advogado idealista e o pai da protagonista Scout, defende um negro acusado de estuprar uma branca. No primeiro, com enredo nos anos 1950, Atticus é racista e foi a um encontro da Ku Klux Klan.
O crítico e escritor Jay Parini avaliou "Go Set a Watchman" como "medíocre". "Não é uma obra-prima", disse em entrevista à Folha. "É um romance de estreia comum de uma jovem com talento, mas sem voz própria. Ela encontrou seu estilo em 'O Sol É para Todos', um verdadeiro clássico."