Best-seller à la Hitchcock chega ao país
Romance 'A Garota no Trem', que liderou lista de mais vendidos nos EUA e no Reino Unido, será adaptado ao cinema
Ex-jornalista, escritora Paula Hawkins se diz surpresa com o sucesso, e refuta comparações com 'Garota Exemplar'
Depois de quatro romances sem sucesso, a jornalista Paula Hawkins, 43, decidiu dar uma última cartada na ficção antes de voltar para um jornal ou até buscar outro tipo emprego.
Deu certo: "A Garota no Trem" virou best-seller, bateu recordes e transformou Hawkins em celebridade do mercado editorial.
O livro chegou nesta semana ao Brasil pela editora Record, após ficar 27 semanas na lista de mais vendidos do jornal "The New York Times", 20 delas em primeiro lugar.
No Reino Unido, desbancou o recorde de 19 semanas de "O Símbolo Perdido" do escritor Dan Brown, best-seller de 2009.
Celebra 4 milhões de cópias vendidas, a tradução para 44 línguas e a expectativa de virar filme, com direitos adquiridos pela Dreamworks.
"Estava otimista, mas nunca pensei que seria um fenômeno. É maravilhoso, mas assustador, porque todas essas pessoas estão com seu livro nas mãos e tendo opinião sobre ele", diz a escritora, nascida no Zimbábue e vivendo desde 1989 em Londres, onde recebeu a Folha nesta quinta (30) para uma entrevista.
Qual a fórmula para um best-seller? "Na verdade, é um mistério, porque se você soubesse exatamente porque é um best-seller, faria a mesma coisa da próxima vez. É difícil responder, as pessoas se prendem no suspense."
Rachel é a "garota" que pega todo dia o trem, às 8h04, de Ashbury para a estação de Euston, em Londres. É uma alcoólatra paranoica, em decadência profissional e pessoal, que alterna a narração do livro com outras duas mulheres, Anna e Megan.
A primeira é casada com o ex-marido de Rachel, Tom. Megan não conhece Rachel, mas Rachel conhece Megan. Todos os dias, do trem, a observa com o marido, Scott, nos jardins da casa.
Megan desaparece e, a partir daí, a história se desenrola como um típico escândalo de tabloide inglês. Rachel é o personagem chave para desvendar o mistério, mas a bebida prejudica sua memória.
"Queria algo envolvendo trens, porque estou acostumada a usá-los, e queria também escrever sobre alguém com problema com bebida e que isso afetasse sua memória", conta Hawkins.
O suspense leva temperos de Hitchcock, sustentado numa narrativa ofegante das personagens. "Eu gosto de Hitchcock. Queria criar um tipo de atmosfera dele, como a paranoia claustrofóbica, um suspense em que todos os personagens duvidam sempre um do outro", diz.
SEM COMPARAÇÃO
Ela reage com certo incômodo às comparações feitas com o livro "Garota Exemplar" (Gilian Flyin).
"Acho que a comparação é feita porque as duas protagonistas são muito problemáticas e não confiáveis. Amy ("Garota Exemplar) mente, enquanto Rachel não consegue lembrar o que fez", diz.
Depois do best-seller, os 15 anos de jornalismo de Paula Hawkins, ao que parece, ficaram para trás: "Eu sinto falta de algumas coisas, como do ambiente de Redação, mas não estava feliz. E nos últimos anos, os jornais britânicos não têm sido lugares bons para trabalhar, são tempos difíceis, foi um momento bom para sair".