Colaboradores evocam projeto de cineasta
A inspiração para o modelo de produção-relâmpago da Tela Brilhadora é a Belair, companhia de Julio Bressane e Rogerio Sganzerla (1946-2004) que, em 1970, realizou seis longas em menos de seis meses.
Quatro décadas depois, o recorde foi desafiado: Bressane, Rodrigo Lima, Bruno Safadi e Moa Batsow rodaram quatro médias-metragens em um mês, com economias próprias e R$ 150 mil do Canal Brasil.
"A escolha de vida do Julio, de acumular os papéis de produtor, roteirista e diretor, é a nossa também", diz Safadi, 35, que criou para o projeto a comédia delirante "O Prefeito" –e codirigiu em 2011 um documentário justamente sobre a Belair.
Num cenário em que o Fundo Setorial do Audiovisual oferece recursos fartos para a produção no país, pode parecer anacrônica a insistência no "cinema de guerrilha", feito na raça. "Filmar com pouco dinheiro te força a ser mais criativo", justifica Lima, 39, autor de "O Espelho", que adapta o conto homônimo de Machado de Assis (escritor-fetiche de Bressane).
"Esse modelo, mais leve e flexível do que o de editais, permite preservar o frescor. Você não espera um ano e meio entre apresentar o projeto e receber o dinheiro", completa Safadi.
O quarto filme do Tela é "A Origem do Mundo", de Batsow, inventário de lendas em torno de inscrições pré-históricas encontradas no Brasil.
Apesar de não terem seguido uma cartilha comum, as obras têm pontos de convergência nítidos. Talvez o mais flagrante seja um certo primitivismo que habita as imagens.
Os personagens circulam num "antes" permanente: antes da linguagem (os silêncios e sons guturais de "O Espelho"), da arte como a conhecemos (os desenhos de "Origem"), da civilização (a floresta e o sertão desolado de "Garoto") e do erguimento da prometida "nova cidade" (as ruínas em que se encontra o gabinete de "O Prefeito").
A ideia do quarteto é que os filmes cheguem às salas até o início de 2016.