Crítica cinema
Longa sobre desfile da grife criado em dois meses parece operação publicitária
"Dior e Eu", documentário sobre o primeiro desfile do estilista Raf Simons para a grife, é uma operação de marketing. Flashes de determinação, ousadia e criatividade são embalados para tentar vender a imagem de uma marca que se renova sem perder as raízes –conhecido adágio da publicidade.
Em 2011, a empresa do lendário Christian Dior foi abalada pelo escândalo provocado pelas declarações racistas e antissemitas de seu então estilista, John Galliano, demitido com estardalhaço.
O belga Raf Simons entrou em seu lugar com a tarefa de, em dois meses, colocar uma nova coleção na passarela. O filme, de Frédéric Tcheng, mostra imagens filtradas dos bastidores desse desafio.
O novo estilista aparece confraternizando com funcionários, fazendo exigências, cobrando prazos e buscando inspiração em museus. Faz o gênero do executivo perfeccionista e sensível.
Apesar de ser a estrela oficial do documentário, Simons não é a personagem mais interessante. Duas senhoras que chefiam a turma de costureiras ganham a cena. Florence Chehet e Monique Bailly surgem sem glamour, mas com uma dose maior de realidade.
Trabalham ali há décadas. Parecem conhecer todos os escaninhos do lugar; demonstram paciência para chiliques e extravagâncias. Pena que o diretor não tenha se detido nessas duas e em outros trabalhadores da oficina.
Na rotina da Dior, os funcionários se dividem entre o cronograma do estilista e os interesses dos clientes bilionários, que gastam € 350 mil por coleção. A fita investe em certo conflito interno – mas nada que arranhe os negócios.
A labuta do corta-corta, costura-costura é tanta que se fica pensando porque a grife não contrata mais costureiras para atender a demanda. Questão de economia?
Esse é um dos pontos pouco explorados do filme, que cita superficialmente uma preocupação com custos. Ao mesmo tempo, dinheiro parece não ser problema para a montagem do desfile, que cobriu com flores frescas as paredes de um casarão. Objetivo maior: ter foto publicada em revista, criar uma imagem original a qualquer preço.
O documentário vai rodando sem mostrar o conjunto da coleção –só fiapos. Tenta criar certa tensão com mudanças de última hora, trabalho pela madrugada –até um casaco é pintado com spray para não estourar prazos.
Mas sabe-se desde sempre que tudo vai acabar bem. Afinal, se tivesse sido diferente o documentário simplesmente não existiria.
DIOR E EU
(DIOR AND I)
DIREÇÃO Frédéric Tcheng
PRODUÇÃO França, 2014, livre
QUANDO estreia nesta quinta (27)
AVALIAÇÃO regular