crítica cinema/drama
Longa reafirma com eficiência a narrativa americana sobre boxe
Em 'Nocaute', Jake Gyllenhaal interpreta um campeão que teve a vida virada do avesso depois de cair em provocação
Dentro da nobre linhagem de filmes sobre o boxe, onde imperam "O Ídolo Público" (Raoul Walsh, 1942) e "Touro Indomável" (Martin Scorsese, 1980), "Nocaute", de Antoine Fuqua, fica numa posição intermediária, mas cai felizmente para o lado positivo pela maneira eficiente de reafirmar a narrativa americana.
Vejamos a história de Billy Hope (Jake Gyllenhaal). Ele é um boxeador que conquista o título mundial, tem um séquito de ajudantes e empresários, uma família linda, mas se deixa levar por uma provocação que acaba em tragédia, vitimando sua mulher, Maureen (Rachel McAdams).
Daí em diante, sua vida vai para o buraco. Ele perde o cinturão, o dinheiro, os amigos, o empresário Jordan (curiosamente interpretado pelo rapper 50 Cent) e até mesmo a compreensão de sua filha de nove anos, Leila (a surpreendente Oona Laurence).
Perde mais: por ser irresponsável e mostrar tendências suicidas, perde a guarda da filha, que precisa ficar numa instituição de caridade até que ele prove estar recuperado diante de um tribunal. É uma descida ao inferno, como tantas que o cinema americano mostrou.
A narrativa americana, contudo, reza pelo tema da segunda chance, e Billy Hope obviamente terá a sua.
Tudo começa a virar quando ele encontra o treinador Tick Wills (Forest Whitaker, de presença marcante como sempre), proprietário de um ginásio onde treinam jovens aspirantes ao pugilismo.
Tick ensina Billy a ter humildade, depois, responsabilidade. Um verdadeiro campeão, antes de tudo, tem de ser um humano melhor. Mas não basta tornar-se melhor, tem de convencer o tribunal.
A direção de Fuqua é mais comportada do que em seus filmes anteriores, sem a tremedeira habitual da câmera –esse tique do cinema atual–, exceto pelos momentos em que estamos no ringue, socando e apanhando com os lutadores, quando a tremedeira é até bem-vinda.
E Gyllenhaal faz brilhantemente um personagem complexo, cheio de comportamentos ambíguos. É o tipo de papel que pode consagrar ou derrubar um ator.
NOCAUTE
(SOUTHPAW)
DIREÇÃO Antoine Fuqua
ELENCO Jake Gyllenhaal, Rachel McAdams, Forest Whitaker
PRODUÇÃO EUA, 2015, 14 anos
QUANDO em cartaz
AVALIAÇÃO bom