Mito de Orfeu cai no asfalto da cidade em espetáculo de dança
Companhia Studio3 transfere a clássica trama grega para a realidade da metrópole brasileira em 'Orpheus'
Montagem conta com a veterana Marilena Ansaldi, 80, que já foi primeira-bailarina do russo Balé Bolshoi
São muitos os destino de Orfeu. Ao longo da história, o mito grego sobre o talentoso músico e poeta, que se apaixona pela bela Eurídice, ganhou inúmeras versões. Algumas trágicas, outras de finais felizes.
Em "Orpheus", espetáculo que a companhia de dança contemporânea Studio3 estreia nesta sexta (18) no Teatro Alfa, em São Paulo, o personagem é transposto para o asfalto da metrópole e a uma realidade bem brasileira.
"Eu queria trazer essa história para o Brasil", explica o coreógrafo Anselmo Zola. "O mito de Orfeu é muito forte na nossa cultura, temos, por exemplo, a peça 'Orfeu da Conceição', de Vinicius de Moraes [em que a trama original é adaptada à realidade de favelas cariocas]. E, aqui, eu me inspirei muito em São Paulo, onde vivo."
Assim, o lado fantástico do mito vai de encontro à dureza do concreto. O espetáculo começa mítico, com imagens oníricas e surreais.
Com a ida de Orfeu ao inferno, em busca da amada morta, a montagem deságua em uma ambientação espiritual –e traz referências bastante brasileiras, como o candomblé e a umbanda.
Depois, chega à realidade da cidade, e o Orfeu grandioso do mito se transforma no singelo poeta das ruas, imerso na violência urbana.
"Vamos da mitologia grega para o estupro que é vida urbana", conta o diretor José Possi Neto –que colabora com a Studio3 desde o espetáculo "Martha Graham - Memórias" (2010).
Mas no fim, conta o encenador, o que o personagem de Orfeu busca é a redenção. "É a luta entre a violência do cotidiano e a busca da sublimação pelo amor."
A trama é embalada por uma trilha sonora que mistura a famosa ópera do alemão Christoph Willibald Gluck (1714-87) para o mito a composições de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
MAIAKÓVSKI
A montagem conta com a participação da veterana Marilena Ansaldi, 80, que foi primeira-bailarina do russo Balé Bolshoi nos anos 1960
Marilena ficou fora dos palcos por sete anos. Retornou no ano passado, ao lado da Studio3, com "Paixão e Fúria - Callas, o Mito", logo após se se recuperar de uma grave infecção no pulmão. "Eu ressuscitei de uma escuridão", comenta a bailarina.
Desde então, diz Anselmo, ela se tornou parte do coletivo, que agora cria para as suas produções papéis direcionados à bailarina.
Em "Orpheus", contudo, Marilena não dança. Lesionou o ombro direito no início do ano e, agora, só faz uso da palavra. É ela quem costura as cenas do espetáculo, declamando um texto de Maiakóvski. Nele, o autor resume a busca de Orfeu: defende que, apesar das mazelas, o amor não pode acabar.
ORPHEUS
QUANDO sex. (18), às 21h30, sáb. (19), às 20h, dom. (20), às 18h
ONDE Teatro Alfa, r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. (11) 5693-4000
QUANTO de R$ 50 a R$ 80
CLASSIFICAÇÃO livre