Realismo mágico e ação dominam 1º dia de Brasília
Longas do festival de cinema trazem tramas de ficção com atores mirins
Produção 'A Família Dionti' retrata mãe e filho que literalmente derretem de amor no interior de Minas Gerais
Crianças e pré-adolescentes se destacaram no primeiro dia da competição do 48º Festival de Brasília: nos dois curtas e no longa apresentados na noite de quarta (16), meninos surgiram em filmes que são, cada um a seu modo, exercícios de gênero, como ação e realismo fantástico.
Aplaudido pelo público que lotou o Cine Brasília, o longa "A Família Dionti", estreia na ficção do diretor Alan Minas, conta a história de um pai que cria sozinho seus dois filhos –Serino, de 15 anos, e Kelton, de 13– em um sítio no interior de Minas Gerais.
Com uma poesia que procura traduzir o espírito de Manoel de Barros e de Guimarães Rosa, "A Família Dionti" revisita um gênero que anda meio fora de moda no cinema: o realismo mágico.
A mãe dos meninos "derreteu de amor", literalmente; o filho menor, Kelton, descobre padecer do mesmo mal ao se apaixonar por uma menina que chega com o circo; enquanto o irmão Serino é seco e chora grãos de areia.
"Antes de escrever, sempre volto a 'Grande Sertão: Veredas' e a Manoel de Barros. É nessa fonte que vou beber", confirma Alan Minas.
"Queria que os personagens fossem carregados de dureza e poesia, como em Guimarães Rosa, mas também tivessem a leveza de Manoel de Barros." O cineasta diz lamentar que o realismo mágico não esteja mais presente no cinema brasileiro.
"Gostaria de ver mais filmes como 'Macunaíma' e 'A Ostra e o Vento', por exemplo", diz o diretor, que mora no Rio de Janeiro e passou um ano no interior de Minas Gerais, entre idas e vindas, preparando "A Família Dionti".
Os curtas da noite também se destacaram. "Command Action", de João Paulo Maria Miranda (que já foi exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes), e "À Parte do Inferno", de Raul Arthuso, trabalham códigos do cinema de gênero com resultados bastante originais.
O primeiro mistura técnicas neorrealistas e elementos do videogame e de filmes de ação para acompanhar um garoto que vai à feira comprar legumes, mas muda de ideia ao se deparar com um brinquedo robô.
No segundo curta, com uma atmosfera de filme de horror, um menino se depara com uma enorme mancha na parede de seu quarto enquanto desconhecidos se agrupam em frente do local, para desespero de sua mãe.