Análise
Sem grandes impactos, Osesp lança uma temporada sensível
Com "Estado de Escuta", tema que inspira a temporada 2016 da Osesp, anunciada na quinta-feira (1º), a orquestra paulista parece aceitar que o momento atual é de atenção, concentração e continuidade. A programação foi montada com inteligência e sensibilidade, sem buscar impactos grandiosos.
O ponto culminante poderá ser a apresentação, regida por Marin Alsop, dos cinco concertos de Beethoven (1770-1827), distribuídos em três dias consecutivos de outubro, com o pianista britânico Paul Lewis, o artista em residência da temporada.
Alsop, regente titular, também comandará, em agosto, uma turnê internacional que levará à Europa obras de Marlos Nobre, Villa-Lobos e Grieg, e que terá a participação da pianista venezuelana Gabriela Montero.
Outra boa novidade é o aprofundamento da relação musical com a cantora e regente francesa Nathalie Stutzmann, escolhida a artista associada das próximas três temporadas. Ela regerá a "Grande Missa" em dó menor de Mozart (1756-1791), no mês de setembro.
O oboísta suíço Heinz Holliger e o violinista austríaco Thomas Zehetmair irão se revezar como regentes e solistas em duas semanas de maio e, em agosto, será executada a "Sinfonia nº 7" de Hans Werner Henze (1926-2012), um dos grandes músicos da segunda metade do século 20.
A parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, de Portugal, que rendeu a melhor encomenda deste ano –em uma obra do brasileiro Aylton Escobar–, terá continuidade com uma composição do português Luís Tinoco a ser estreada em Lisboa e São Paulo.
Presenças aguardadas serão também as do jovem compositor norte-americano Mason Bates, do jovem regente eslovaco Juraj Valcuha e do pianista-compositor turco Fazil Say.
O diretor artístico Arthur Nestrovski fala de um "estado de escuta" passível de "ampliar os sentidos" e "dar mais vida à vida".
Mas há ainda um outro sentido, propriamente político, sugerido pela escuta da palavra "Estado" com maiúscula: "Estado de escuta" é apreensão com o presente, mas também esperança de que haja mais escuta nas variadas instâncias do Estado.