Brasil chega ao encontro com menos poder de fogo
Hoje é dia de ir às compras na Feira do Livro de Frankfurt. Mas, diferentemente do que acontecia nos últimos anos, quando o Brasil era a alegria do mercado internacional, desta vez o editor brasileiro chega com mais cautela para negociar.
A alta do dólar, que inflaciona o valor dos adiantamentos, já faz os brasileiros apostarem mais baixo na hora de adquirir novos títulos.
"O mercado teve de se adaptar ao câmbio. Já vemos livros que valeriam US$ 15 mil ou US$ 20 mil, no ano passado, saindo por entre US$ 7 mil e US$ 10 mil neste ano", afirma o agente literário João Paulo Riff.
O adiamento e a interrupção de programas de compras de livros pelo governo federal também são novidade. E os títulos com perfil de vendas governamentais devem ficar de fora da sacola das editoras nacionais. É o caso de obras infantis ou de perfil mais literário.
"Fomos obrigados a não investir em títulos que tinham esse perfil de adoção escolar", diz Rafaella Machado, editora do selo Galera Record. "Focamos agora naquilo que é mais comercial".
O dólar, que fechou na terça (13) a R$ 3,82, também deixou em apuros o programa de bolsas de tradução da Biblioteca Nacional. Até agora, foram concedidas 83 neste ano – contra 170 em 2014.
O ano não terminou, mas a próxima reunião para selecionar quem vai receber bolsas deve ser cancelada. E 2015 terminaria, assim, com o que foi concedido até agora.
"Mais do que a falta de dinheiro, o problema é a falta de transparência", afirma a alemã Nicole Witt, agente especializada em autores de língua portuguesa e espanhola. "É importante as bolsas continuarem, mesmo que com menos dinheiro."
Os brasileiros vivem um impasse. Por um lado, é importante apertar o cinto; por outro, não é o momento de perder títulos que podem ser um sucesso.
"Ficar na defensiva é difícil também. Você não pode se dar ao luxo de perder um bom projeto", afirma Marcos da Veiga Pereira, um dos sócios da Sextante. "Um novo best-seller pode fazer toda a diferença no meio da crise."