Diário do Rio
O MAPA DA CULTURA
Desafios cariocas
Calor, praias cheias e os relatos dos taxistas
ALVARO COSTA E SILVAA praia, sempre a praia. Fazer o quê, se ela está ali perto, e a cidade registrou, nos primeiros dias do verão, seis das dez temperaturas mais altas do mundo, segundo dados do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos? Fevereiro, com possíveis chuvas, promete um refresco, mas será?
Quem pode amanhece na praia --e anoitece também, pois a frequência à noite está batendo outros recordes. As preferidas são, claro, as da zona sul, o litoral do Tim Maia: "Do Leme ao Pontal, não há nada igual".
Nos fins de semana, com a afluência absurda de locais e turistas, encontrar um lugarzinho ao sol é tarefa difícil. Algumas fotos tiradas do alto são assustadoras: perto da beira-mar, não se vê a faixa branca de areia, entupida de gente e barracas coloridas. Uma visão do inferno no paraíso.
Faz um calor de --como dizia o Eça-- "derreter o bestunto" do cidadão. O resultado não poderia ser outro: a pouca inteligência grassa nessa época como em nenhuma outra do ano. Volta-se a discutir a necessidade de limitar o transporte para as pessoas que vêm da zona norte, e surgem até propostas de cobrar ingresso para entrar na praia (imagine as catracas ao longo da orla). O que se quer é uma espécie de faxina social para combater os tumultos e arrastões que a segurança pública não consegue evitar.
Enquanto isso, aquele que seria o espaço democrático por excelência do carioca consagra mais um modismo. Depois do verão do píer, da lata, do apito, do créu, 2015 desponta como o do "pau de selfie". Ou "pau de belfie", extensor de câmera projetado para capturar a própria bunda. Tudo a ver com praia.
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Em seu segundo e excelente livro de contos, "Cantos Profanos" [Biblioteca Azul, 152 págs., R$34,90], Evando Nascimento flagra as atividades de um personagem velho conhecido da cidade: o taxista conquistador que, não satisfeito, narra com detalhes suas transas. Ao pobre passageiro, resta ouvi-las, ou descer do carro.
O relato "Táxi" é preciso ao mostrar a frustração do motorista: "(...) vontade mesmo tenho de escrever um romance contando minhas aventuras, desventuras, muito além da imaginação".
Cuidado com o tipo, leitor, ainda mais sabendo que o tempo perdido no Rio em engarrafamentos triplicou nos últimos dez anos.
AI DE TI, CARIOCA
É uma pena, mas, em meio à pompa pelo aniversário dos 450 anos, o principal marco civilizatório da cidade está morrendo. O rio Carioca --que nasce no Corcovado e desce ao longo do Cosme Velho e Laranjeiras, silencioso e subterrâneo, em direção ao mar do Flamengo-- resume-se a um filete negro de puro esgoto.
No único trecho em que corre a céu aberto, no largo do Boticário, há uma placa informando sua extensão: 4.300 metros. Triste é ver que o canal está atulhado de todo tipo de lixo.
Suas águas, antes potáveis e abundantes, e que abasteciam os primeiros moradores e navios portugueses, franceses, holandeses, hoje abrigam uma superbactéria. Salvar o rio Carioca seria um presente saudável.
QUEM SABE MAIS?
Virou moda de verão o jogo de tabuleiro "Desafio Carioca", criado pelo jornalista Luiz André Alzer, com ilustrações de Bruno Drummond e Renato Machado. Ganha quem tem sorte, mas também quem conhece mais o Rio. Qual a distância entre o Leme e o Pontal?
Pode ser disputado por até seis pessoas. Num mapa, estão os lugares mais manjados: Pão de Açúcar, sambódromo, igreja da Penha. O objetivo é visitar três cartões-postais e uma praia (de novo, ela), além de cruzar a cidade de uma região a outra. Se você cair num botequim, tem direito a uma bolacha de chope, que substitui um ponto turístico de visita obrigatória. O passatempo custa R$ 84 e é vendido on-line, pelo site desafiocarioca.com.br.
São 360 questões, algumas difíceis. Nada, contudo, semelhante às perguntas, apelidadas de "Horta da Luzia", que Ivan Lessa propunha no "Pasquim". Ali, sim, o grau de dificuldade era "profissa": que cigarro fumava Noel Rosa? Quais os dois campeões cariocas de 1948 pelo Botafogo que foram pracinhas? Que criminoso de guerra nazista explorava os pedalinhos da Lagoa?