Contratos de câmbio do BC chegam aos US$ 100 bilhões
Operações equivalem a venda de dólares e elevam risco para governo se cotação da moeda americana subir muito
Volume vendido perfaz 25% das reservas do Brasil em moeda estrangeira; oposição quer reduzir programa
O estoque de contratos de câmbio nas mãos do mercado financeiro alcançou nesta sexta (17) a marca inédita de US$ 100 bilhões, segundo o Banco Central.
O valor desses contratos, chamados de swap cambial, corresponde a mais de 25% das reservas do país em moeda estrangeira e tem sobre o mercado de câmbio efeito similar ao da venda de dólares.
Ou seja, ajuda a segurar as cotações, em um momento em que o valor da moeda pode definir se a meta de inflação será ou não estourada.
O swap cambial é um contrato que remunera o comprador com a variação do dólar. Se o dólar cai, ele perde dinheiro. Se sobe, ele ganha. Em troca, paga-se juros ao BC.
O valor é tão alto que pequenas variações na moeda geram lucros ou perdas bilionários ao governo, além de aumentar o risco para o país em caso de alta na cotação.
Em fevereiro, com estoque menor, uma desvalorização do real de cerca de 4% gerou uma perda de R$ 8,3 bilhões ao governo. Em setembro, a moeda subiu mais de 9%, gerando uma perda estimada em quase R$ 20 bilhões.
O programa atual de intervenções diárias no mercado de câmbio começou no fim de agosto de 2013, quando o estoque desses contratos somava US$ 38 bilhões. Na época, a decisão do BC de atuar diariamente estava relacionada à influência das decisões do banco central dos EUA sobre a taxa de câmbio no Brasil.
No fim do ano passado, quando o montante já ultrapassava US$ 75 bilhões, o BC decidiu esticar o programa de atuação, mas reduzindo os valores dos leilões.
Os swaps vencem mensalmente, até outubro de 2015. Para manter o estoque elevado, além das operações diárias, o BC realizada leilões de rolagem, o que na prática significa esticar o vencimento dos contratos no mercado.
"Assim, o BC conseguiu até pouco tempo apreciar fortemente o real, e agora consegue impedir que escape e atinja uma taxa explosiva", afirma Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio.
Segundo o especialista, para haver um "desmonte" desse estoque, sem o dólar disparar, será necessária uma melhora considerável de fluxos de recursos estrangeiros para o país, o que somente será possível com políticas novas e seu sucesso de forma que possa ser aferido.
"Isso levará tempo, mesmo se a oposição vier a assumir o governo em 2015", afirma.
João Medeiros, diretor da Pioneer Corretora, afirma que o swap é um instrumento importante para o mercado de câmbio, pois permite ao governo atuar sem gastar as reservas internacionais.
Medeiros diz que mesmo se o BC tivesse prejuízo com essas operações, o que não ocorreu em 2014, isso seria compensado pela estabilidade da moeda.
Em entrevistas à agência Reuters, na quarta (15), o economista Arminio Fraga afirmou que é necessário interromper o programa do BC e reduzir esse estoque ao longo do tempo. Fraga assumiria o Ministério da Fazenda na hipótese de vitória do candidato Aécio Neves (PSDB) nas eleições presidenciais.