Vaivém das commodities
MAURO ZAFALON mauro.zafalon@uol.com.br
Clima reduz qualidade do trigo e afeta plano de indústrias de moagem
Bem quando o país caminhava para uma safra recorde de trigo, o cenário começa a se redesenhar para pior. As chuvas no Paraná e no Rio Grande do Sul, os dois principais produtores do país, vão provocar uma queda tanto no volume como na qualidade do cereal.
Ruim para a indústria, que terá parte do produto brasileiro com menor qualidade. Isso ocorre bem agora, quando, devido às importações de trigo, o setor de moagem dispõe de uma matéria-prima com qualidade e uniformidade, vinda dos EUA.
A qualidade do trigo tem sido essencial para a indústria de moagem, que busca uma farinha melhor para a obtenção também de um pão de melhor qualidade.
Mas especialistas nesse setor --reunidos nesta segunda (20) em um congresso da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria de Trigo, em Foz do Iguaçu)-- dizem que ainda é cedo para definições.
No caso do Paraná, Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), diz que a colheita ia bem até a ocorrência de chuvas, que já terminaram.
A chuva afetou próximo de 10% da produção, mas em patamares bem diferentes. Algumas regiões foram mais afetadas, com queda maior da qualidade do produto. O Paraná deverá produzir 3,9 milhões de toneladas e pelo menos metade desse volume já foi colhida.
No Rio Grande do Sul, o segundo maior produtor nacional, a situação é um pouco mais complicada. Os gaúchos semearam 1,13 milhão de hectares e esperavam uma safra de 3,5 milhões de toneladas.
Os problemas começaram logo no plantio, que teve de ser adiado devido ao excesso de chuvas. A partir de setembro, as chuvas voltaram e continuam afetando as lavouras, que devem render menos e registrar uma qualidade menor. A estimativa atual de produção é de 2,5 milhões de toneladas, segundo Hamilton Guterres Jardim, da Farsul (Federação de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul).
Em algumas áreas do Estado --Missões e regiões norte e nordeste--, a colheita mostra um trigo com até 40% de baixas produtividade e qualidade. Jardim diz que esse é o trigo semeado mais cedo, mas que, melhorando o clima, a colheita poderá voltar ao normal.
Sem os atuais problemas climáticos ocorridos nos dois Estados produtores, a safra brasileira estava prevista em 7,6 milhões de toneladas neste ano pelo governo.
Alexandre Mendonça de Barros, da MB Agro, é um dos que apontam as dificuldades para um dimensionamento da safra. Ele acredita que, se o clima ainda continuar desfavorável, a quebra de safra poderá ser de até 1 milhão de toneladas.
Edson Csipai, da Bunge, diz que esse clima adverso muda o panorama da oferta, já que parte do trigo não terá o padrão para a industrialização. Parte do cereal será destinada a ração.
A oferta de trigo de qualidade fica ainda mais comprometida porque as lavouras do Paraguai e do Uruguai também sofrem os efeitos adversos do clima.
No acaso da Argentina, tradicional fornecedor do Brasil, não se sabe quando e nem como o governo deverá abrir as exportações, diz ele.
Com consumo de 12 milhões de toneladas, uma quebra de safra fará o país elevar ainda mais as importações. Como diz Alan Tracy, presidente da U.S Wheat Associates, bom para os EUA, que já tiveram o Brasil liderando as importações dos EUA na safra 2013/14.