BC dos EUA segue plano e põe fim a injeções de dinheiro na economia
Desde 2008, programa de compra de títulos consumiu US$ 4,5 tri; juros continuam perto de zero
Fed aponta melhora no mercado de trabalho e acena com aumento de taxa básica no médio prazo ao citar inflação
Em movimento amplamente antecipado pelo mercado, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) anunciou nesta quarta (29) o fim de seu extenso programa de recompra de títulos para estimular a economia americana.
Após dois dias de reunião de seu comitê de política monetária, o Fomc, o Fed anunciou também a manutenção da taxa básica de juros da economia entre zero e 0,25%, patamar em que está desde 2008, auge da crise global.
A continuidade da taxa nesse intervalo é esperada até pelo menos meados de 2015. Como em reuniões anteriores, o Fed afirmou que deve manter os juros perto de zero "por tempo considerável".
O comunicado deste mês, no entanto, usa um tom mais otimista. Segundo o texto, a subutilização de mão de obra, considerada "significativa" em setembro, agora está "diminuindo gradualmente" --ou seja, há contratação.
"As condições do mercado de trabalho melhoraram ainda mais, com ganhos sólidos e um índice de desemprego mais baixo", diz o texto.
Para balizar sua política de juros, o Fed analisa, além do mercado de trabalho, a inflação. No comunicado desta quarta, a autoridade monetária afirma que esta deve permanecer baixa no curto prazo com a queda nos preços de energia, entre outras coisas.
"O comitê avalia, porém, que a probabilidade de a inflação continuar abaixo de 2% [a meta do Fed no longo prazo] diminuiu", diz o texto --o que pode ser lido como aceno para a alta de juros em um futuro visível.
Um aumento de juros tende a atrair de volta aos EUA investidores que, nos últimos anos, migraram para países emergentes como o Brasil em busca de mais retorno, o que pode vir a pressionar o câmbio nesses mercados.
EMPREGO
O programa de recompra de títulos hipotecários e do Tesouro começou no fim de 2008 para injetar dinheiro na economia dos EUA. Em três fases, a autoridade monetária gastou US$ 4,5 trilhões, ou duas vezes o PIB do Brasil.
A fase atual, que acaba nesta sexta (31), começou em setembro de 2012, com compras de US$ 85 bilhões. O início da redução foi divulgado após a reunião do comitê monetário de dezembro de 2013.
"O comitê considera que houve melhora substancial na perspectiva do mercado de trabalho desde a inserção de seu programa atual de compra de ativos", diz o texto.
"Além disso, continuamos vendo força suficiente na economia para apoiar o progresso em direção ao emprego máximo em um contexto de estabilidade de preços. Por isso, o comitê decidiu encerrar seu programa de compra de ativos neste mês."
Durante a terceira fase do plano, a taxa de desemprego caiu de 8,1% para 5,9%, mais perto do nível pré-crise, que pairava em torno de 5%.
Economistas e investidores críticos ao programa, porém, afirmam ser difícil aferir os efeitos benéficos reais. Além disso, houve temores de que as injeções mensais de dinheiro criassem bolhas.
A partir de agora, o Fed vai manter o montante de títulos que possui, reinvestindo o dinheiro de títulos expirados em outros de maior prazo.