Câmbio e preço do minério levam Vale a prejuízo de R$ 3,38 bilhões
Apesar de produção recorde, resultado surpreende mercado; empresa enxuga áreas secundárias
Segundo analista, recuperação depende da China, da trajetória do dólar e de decisões econômicas do governo
A queda de 19% no preço do minério de ferro e a desvalorização cambial de 11% derrubaram o resultado da Vale, que, com produção recorde, fechou o terceiro trimestre com prejuízo de R$ 3,38 bilhões, ante lucro de R$ 3,19 bilhões no segundo.
O resultado surpreendeu o mercado. "Esperávamos uma pequena perda ou um pequeno lucro", disse o analista Pedro Galdi, da corretora SLW.
A produção de minério de ferro atingiu 87,3 milhões de toneladas com a ampliação da principal mina da empresa, em Carajás (PA). O excedente, porém, foi estocado, devido a manifestações de quilombolas na ferrovia que serve a mina em setembro.
Já a cotação do produto está em US$ 80, a pior desde 2009, auge da crise global.
A desvalorização do real teve efeito contábil na dívida, predominantemente em dólar, e causou perdas com derivativos (operação usada para proteção cambial).
O lucro até setembro foi de R$ 5,72 bilhões, 62% aquém dos R$ 14,98 bilhões dos nove primeiros meses de 2013.
Já a receita caiu 6,3% entre o segundo e o terceiro trimestres, de R$ 22,47 bilhões para R$ 21,06 bilhões. Em nove meses, a receita da Vale atingiu R$ 66,37 bilhões, 8,7% abaixo dos R$ 72,72 bilhões em igual período de 2013.
Ao explicar a queda no preço do minério, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse que "a fragilidade da economia mundial é evidente".
A empresa prevê que a cotação menor leve produtores independentes a deixar o mercado, o que forçaria uma alta. Isso não teria ocorrido ainda porque há estoques desses fornecedores sendo despejados no mercado.
Segundo Ferreira, a Vale segue a "trajetória da austeridade" e economizou mais de US$ 500 milhões em 2014, comparados aos nove primeiros meses de 2013.
A geração de caixa, medida pelo indicador Ebitda, caiu 25% entre o segundo e o terceiro trimestres, de R$ 9,14 bilhões para R$ 6,85 bilhões.
ENXUGAMENTO
Segundo Ferreira, a Vale continuará procurando oportunidades de venda de "não estratégicos" para reforçar o caixa. As áreas de carvão e de fertilizantes estão sendo reestruturadas e, em breve, haverá novidades, afirmou.
A expectativa é que, nos próximos meses, o efeito do câmbio desvalorizado passe a ser favorável à empresa, uma vez que reduzirá custos.
Os investimentos caíram 21,2%, para US$ 8,2 bilhões no ano. "Estamos fazendo o mesmo com menos", disse o diretor financeiro, Luciano Siani. A Vale quer investir menos em 2015, com o real fraco e boa gestão de projetos.
Para o mercado, a recuperação da Vale depende de três fatores. "O preço do minério deverá subir, mas isso depende da China [maior mercado], da trajetória do câmbio e das indicações econômicas no Brasil", diz Victor Penna, analista do Banco do Brasil.