Zona do euro corta projeção para o PIB em 2015 em 1/3
Alemanha e França deverão crescer metade do esperado no ano que vem
Economia do bloco deve avançar 1,1% com risco de deflação; comissão admite que lentidão na retomada pode durar
A Comissão Europeia cortou drasticamente nesta terça (4) suas projeções para o crescimento da zona do euro e reduziu à metade a perspectiva de crescimento das duas principais economias do bloco, Alemanha e França.
A nova projeção prevê que a zona do euro crescerá apenas 1,1% no ano que vem, ante previsão de 1,7% feita há apenas seis meses --indício de que a recuperação esperada após a crise no continente pode estar travando.
A Alemanha, que cresceria 2,2% segundo a projeção anterior, deve avançar 1% em 2015; já a França, cuja previsão de alta do PIB era de 1,5%, passou a ter previsão de 0,7%.
Os novos números aumentam a pressão sobre o Banco Central Europeu para expandir suas medidas extraordinárias e reverter a situação.
A Comissão, órgão executivo do bloco, admitiu que a economia da União Europeia está não só "particularmente fraca" se comparada aos demais países desenvolvidos mas também abaixo dos padrões históricos de recuperação pós-crise e que há risco de a lentidão se perpetuar.
"O legado da crise está afetando os países-membros em graus diferentes, mas os efeitos colaterais causados pelo comércio e pela queda na confiança são consideráveis", constatou a comissão.
Autoridades da comissão insistem em que os números não derivam da austeridade fiscal promovida pela UE, apontando que alguns dos países que passaram pelos programas de reforma mais duros agora estão crescendo vigorosamente, embora de uma base bastante reduzida.
A Irlanda, que concluiu seu programa de resgate no ano passado, deve crescer 3,6% em 2015, o ritmo mais veloz na União Europeia. A Grécia deve expandir 2,9%.
"A consolidação fiscal é uma necessidade", disse Pierre Moscovici, novo comissário da União Europeia para assuntos econômicos. "Mas a questão que temos hoje é como recriar a esperança quanto ao projeto europeu."
DEFLAÇÃO
As dificuldades que a zona do euro enfrenta para retomar o crescimento sustentável contrastam com a situação dos EUA, que no segundo e no terceiro trimestres registraram seus seis meses de mais rápido crescimento em uma década, e com a do Reino Unido, cuja projeção de expansão é de 2,7%.
Especialmente perturbador para o BCE, cujo conselho de política monetária deve se reunir nesta semana sob crescentes temores de deflação, foi o corte nas projeções de inflação para 0,5% neste ano e 0,8% no ano que vem.
As projeções podem ser problemáticas sobretudo para a França, que vive um embate com Bruxelas sobre o Orçamento para 2015.
Os novos números serão usados pela comissão para avaliar se o governo de François Hollande violou as normas da União Europeia ao não reduzir seu deficit o suficiente para chegar à meta de 3% ao ano fixada pelo bloco. O organismo prevê que o deficit francês fique em 4,5%.