Mercado MPME
Vou de Taxi
Criadores de empresas que crescem rápido decidem se afastar do negócio para começar de novo do zero; manter identidade da atividade é desafio
Em 2011, Tallis Gomes, 27, mineiro da cidade de Carangola, fundou a Easy Taxi, empresa dona do aplicativo de chamada de táxis pelo smartphone. Sempre com Gomes no comando, e com aportes de fundos de investimento que somam R$ 145 milhões, a companhia se expandiu para 33 países, 200 cidades e os aparelhos de 350 mil taxistas.
No começo deste mês, porém, o jovem surpreendeu ao confirmar que está deixando a copresidência do negócio.
"A Easy Taxi já tem vida própria e estou apaixonado por "internet of things" [conexão e monitoramento de objetos do cotidiano], "big data" [soluções baseadas em processamento de dados] e "mobile wearables" [aparelhos como o Google Glass]. Quero levar o Brasil para a crista dessa onda", diz.
Ele não dá detalhes, mas diz que lançará uma outra empresa, inicialmente com investimento próprio. O Easy Taxi fica no comando de Dennis Wang, 31, que também era copresidente.
De acordo com Renato Fonseca, consultor do Sebrae-SP, a entrega do controle do criador de uma empresa para um gestor de fora é uma medida comum em negócios que crescem rápido.
"Um empreendedor é um visionário que percebe uma oportunidade e dá os primeiros passos decisivos", diz. Mas quando o negócio evolui em ritmo rápido, pode ser impossível para um dono com experiência restrita aprender no ritmo necessário.
Trazer alguém de fora é comum também quando falta um sucessor para o negócio da família, quando o dono quer trabalhar menos ou quer tocar outros projetos.
Fundada em 2008 por Mônica e Juliano Ipólito, a empresa de vendas virtuais de artesanato Elo7 tinha uma equipe de cinco pessoas --incluindo os donos e um estagiário-- quando recebeu uma oferta de aporte de fundos de investimentos, em 2011.
Juliano, então presidente, aceitou a proposta, mas não queria comandar a expansão do negócio ou lidar com uma grande corporação. Por causa disso, Carlos Curioni, que era executivo no Mercado Livre e liderava 800 pessoas, assumiu a presidência.
Ele conta que, além do conhecimento técnico, teve que assimilar o projeto que os donos tinham para a empresa. "A razão de ser é fomentar o mercado artesanal no Brasil", conta. Hoje, a Elo7 tem 80 funcionários e o número de artesãos cadastrados subiu de 50 mil para 120 mil.
Para Fonseca, do Sebrae, um novo presidente "tem que ter uma leitura dos valores e virtudes originais da empresa e conhecer práticas que não deram certo".
Juliano e Mônica continuam como acionistas e dão sugestões a cada dois meses --intervalo que cresce conforme sua passagem no negócio fica para trás. O casal investe seu tempo em outra plataforma de vendas on-line que criou, a Iluria.
A transição deve ser mais simples no caso da Easy Taxi, que tinha Wang como co-presidente desde 2011, quando a companhia recebeu a primeira rodada de investimentos e tinha quatro funcionários. Hoje, são 1.300.
Enquanto alguns deixam a cria, outros empresários se mantêm no negócio mesmo depois de vendê-lo. Julio Vasconcellos continuou como presidente do Peixe Urbano após a compra pelo Baidu, o gigante de buscas chinês, em setembro deste ano.
Ele avalia que o voto de confiança só foi dado porque mostrou que sabe tomar decisões drásticas.
Em 2012, o mercado desacelerou, e o modelo de compras coletivas derrapou. "Operávamos com equipes em 60 cidades e fechamos 20. A receita caiu 30% e demitimos 300 de 800 funcionários, incluindo gente que foi no meu casamento. Fiquei porque mostrei que sei lidar com períodos difíceis", diz.