Congresso é ameaça a aperto, diz investidor
Para Luis Stuhlberger, manter grau de investimento do país é prioritário
Gestor de um dos maiores fundos de investimento do mundo diz que mercado mostra confiança na Fazenda
A escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda minimiza o risco de que o Brasil perca o grau de investimento, mas o Congresso e o Judiciário são obstáculos à a política de austeridade prometida, avalia Luis Stuhlberger, gestor de um dos maiores fundos de investimentos multimercados do mundo e um dos "oráculos" do mercado financeiro.
O grau de investimento é uma espécie de certificado de bom pagador usado por investidores, como grandes fundos, para balizar a colocação de recursos.
Evitar o rebaixamento da nota de risco do Brasil deveria ser a prioridade do governo, segundo Stuhlberger, diretor da Credit Suisse Hedging-Griffo e sócio fundador da Verde Asset Management.
No momento, o Brasil está a um degrau de perder o grau de investimento na avaliação da agência Standard & Poor's, com a nota BBB-. Na agência Fitch, o país está dois degraus acima da "nota de corte", com BBB. Na Moody's, a nota também está dois degraus acima (Baa2), mas a agência colocou em setembro o Brasil com perspectiva de baixa.
Para Stuhlberger, a prometida política de cortes de despesas, aumento de impostos e alta de juros para conter a inflação tem potencial para reverter "a lenta e previsível deterioração dos fundamentos da economia brasileira", se for sustentada por pelo menos dois anos.
"O difícil é saber se o país vai conseguir passar por uma fase de sangue, suor e lágrimas' depois de ter vivido anos de sexo, drogas e rock & roll'. Não é fácil essa execução. Não é trivial essa convivência, no Ministério da Fazenda, com tantos interlocutores, de interesses tão distintos", afirmou, durante entrevista após almoço promovido pelo banco de investimentos Credit Suisse.
O mercado, portanto, estará atento ao cabo de guerra que se instalará entre a necessidade de equilibrar as contas públicas e as pressões por mais gastos ou menos elevação de receitas. "E o principal risco não é a suposta discordância ideológica da presidente. É a atuação do Congresso e do Judiciário", que poderiam resistir a aumento de imposto ou cortes de gastos, avalia Stuhlberger.
Embora aponte que o mercado já deu um voto de confiança para a nova equipe econômica, ele se diz "cético" em relação ao sucesso da política de austeridade fiscal.
UM DIA APÓS O OUTRO
A confiança do mercado será reavaliada um dia após o outro, segundo José Olympio Pereira, presidente do Credit Suisse no Brasil, um dos maiores bancos de investimentos do país. "Sinais serão emitidos e captados, um sinal após o outro."
Um dos sinais acompanhados de perto será a capacidade do governo de cumprir a meta de economia anunciada por Joaquim Levy na semana passada, de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto).
Para Pereira, é fundamental que o governo restaure a confiança do empresariado. "Há muito capital global interessado em investir no Brasil, particularmente em infraestrutura, desde que as concessões sejam bem-feitas", afirma o presidente do Credit Suisse, que acaba de voltar de um congresso de megainvestidores globais.