Vale busca US$ 2 bi com venda de navios
Com preço do minério em baixa, empresa quer fazer caixa com a comercialização de 15 supernavios cargueiros
Para o presidente da mineradora, cenário externo preocupa e os próximos dois anos serão 'desafiadores'
Num momento de baixo preço do minério de ferro e sem perspectivas de recuperação no curto prazo, a Vale manterá, no próximo ano, a estratégia de vender ativos para fazer caixa.
A mineradora busca compradores para 15 supernavios cargueiros e espera levantar de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões (entre R$ 4 bilhões e R$ 5,4 bilhões) com essa venda.
Para Murilo Ferreira, presidente da Vale, o "cenário internacional é muito preocupante" com a freada do crescimento da China --que não deve ficar em torno de 7% neste ano--, a estagnação na Europa e a recessão no Japão.
Nesse ambiente de demanda fraca e com o excesso de produção de minério de ferro no mundo, não se vislumbra uma melhora substancial dos preços do minério.
Ao final de 2013, a cotação do principal produto da Vale estava em US$ 135 a tonelada. Neste mês, está em torno de US$ 70 a tonelada.
'DESAFIADORES'
Ferreira disse que 2015 e 2016 serão anos "desafiadores" para a Vale, pois não se esperam preços elevados e a empresa estará numa fase de pesados investimentos para colocar em operação daqui a dois anos a nova mina de Carajás, no Pará.
Por isso, a Vale procura compradores para seus navios, batizados de Valemax, e busca ainda um sócio para uma fatia de seus investimentos em fertilizantes. O objetivo é vender as embarcações e alugá-las do comprador por um longo período. Neste ano, a Vale fez essa operação com quatro navios, arrendados por 25 anos.
Os supercargueiros fazem parte da estratégia da Vale de transportar um volume maior de minério de ferro --cada navio tem capacidade para 400 mil toneladas-- para a China. Assim, ela consegue baratear o custo do frete e competir com as mineradoras australianas, geograficamente mais próximas daquele mercado.
Em seu programa de venda de ativos, a Vale conseguiu US$ 6 bilhões em 2013. Neste ano, trouxe para seu caixa algo em torno de US$ 5,5 bilhões. A maior operação foi a venda de participações numa mina de carvão e numa ferrovia em Moçambique para a japonesa Mitisui, no valor de US$ 3,7 bilhões.
MINÉRIO DE SOBRA
Para Peter Poppinga, diretor de Ferrosos da Vale, há uma produção maior de minério de ferro do que a demanda, situação que se manterá em 2015. Ainda assim, o executivo acredita que o mercado jogou os preços muito para baixo e deve haver uma recuperação no próximo ano. "Só não sabemos de quanto."
Apenas em 2016, porém, é que o consumo e a oferta de minério estarão equilibrados --o que, em tese, abre espaço para uma melhora mais firme dos preços.
CÂMBIO
Segundo Ferreira, a desvalorização do real ante o dólar beneficia a companhia, que tem a maior parte dos custos em reais por produzir no Brasil e receberá mais por suas exportações, cotadas na moeda norte-americana.
Para o executivo, porém, a Vale e a indústria como um todo têm de ser competitivas e buscar baixos custos, sem se fixar no patamar da taxa de câmbio. "Não podemos ficar presos a essa armadilha."