Crise aguça apetite de empresa estrangeira
Com perspectivas de longo prazo, multinacionais continuam a injetar recursos, apesar do momento turbulento
Companhias enxergam oportunidades no Brasil nos próximos anos; BC prevê alta do investimento em 2015
"Não nos importamos!", foi a resposta de Gregoire Parenty, vice-presidente de desenvolvimento de mercados da fabricante de aços sueca SSAB, sobre o posicionamento da empresa diante da crise política e econômica enfrentada pelo Brasil. "Na verdade, estamos prestes a inaugurar um terceiro centro de distribuição", diz.
Apesar dos problemas políticos envolvendo a Petrobras e da dificuldade para implementar um ritmo de crescimento próximo às expectativas criadas em torno do país, os investimentos estrangeiros mantêm o fôlego.
A projeção do Banco Central, divulgada na sexta (19), é que o investimento estrangeiro direto feche 2014 em US$ 63 bilhões e suba para US$ 65 bilhões em 2015.
Não é difícil encontrar respostas semelhantes à de Parenty entre outros executivos.
Rolf Habben Jansen, presidente da transportadora internacional alemã Hapag-Lloyd, diz que o Brasil está entre suas cinco prioridades para 2015.
Recentemente, a companhia concluiu a fusão com a transportadora chilena CSAV, o que garantiu à alemã uma fatia de quase 20% do mercado brasileiro.
"Qualquer lugar onde pensamos em investir, fazemos isso sob a perspectiva do longo prazo. O próximo ano, para nós, não é tão importante porque, como somos uma empresa de uso intensivo de capital, o retorno começa a se dar somente após dez anos", afirma Jansen.
OPORTUNIDADES
Algumas empresas até veem no momento delicado que o país atravessa uma janela de oportunidades.
Reinaldo Garcia, presidente e CEO da GE para a América Latina, diz saber de empreiteiras estrangeiras, principalmente espanholas, que estão de olho nos desdobramentos do escândalo da Petrobras para atuar no país.
"Representa uma chance de entrarem em um mercado difícil, um pouco fechado."
Para outras companhias, segmentos que estão crescendo devem continuar a mostrar bom desempenho.
Roberto Wagmaister, presidente do Grupo Assa, consultoria argentina em tecnologia da informação, afirma que o Brasil é a principal aposta para dobrar o faturamento da empresa até 2017.
"Vemos o Brasil como um dos principais mercados para implantar novas tecnologias de informação, como o big data', principalmente nas médias empresas. Não vamos concorrer com a IBM, que já possui a conta de grandes companhias. Estamos atrás de nichos de mercado."
EXPECTATIVA
Segundo Evaldo Alves, especialista em comércio exterior da Fundação Getulio Vargas, a crise vivida pelo país não afeta o horizonte das multinacionais.
"O nosso problema está relacionado ao lucro baixo, frustrado pelo baixo crescimento, que, espera-se, voltará a acelerar dentro da perspectiva estipulada pelas empresas", afirma.
Alves diz que os maiores riscos para os investidores são as intervenções do governo no mercado.
"O que poderia afugentar as empresas seria uma ameaça ao direito de propriedade, como aconteceu na Venezuela ou na Argentina, com a estatização de importantes projetos. Esse risco está longe de ser o brasileiro. Os equívocos que levaram à paralisação da economia podem ser consertados em dois ou três anos."
Reginaldo Nogueira, especialista em relações internacionais do Ibmec, diz que, mesmo que os investimentos venham se mantendo, a economia precisa voltar a acelerar, pois nem todo otimismo dura para sempre.
"Quando a crise de curto prazo começa a afetar as projeções de longo prazo, isso pode criar uma perspectiva perigosa. Ainda não é o que está acontecendo, mas as expectativas de crescimento, que há cinco anos eram de uma média de 3,5% ao ano durante uma década, hoje estão mais próximas de 2,5%."
De qualquer forma, Nogueira não acredita que empresas que tenham planos de investir no Brasil cancelem os projetos em razão da crise.
"A decisão tomada em 2014 tem pouca relação com 2015. Mas, se o ano seguinte se apresentar muito ruim, as empresas deverão postergar a entrada no país."