Serviço e alimentos devem ajudar a segurar os preços
Desaquecimento do emprego e da renda deve reduzir consumo e, assim, enfraquecer pressão sobre inflação
Consultorias preveem que preços livres devem subir 5,8% em 2015, contra os 6,6% estimados para 2014
A missão do governo de cumprir a meta de inflação em 2015 só não será mais complicada porque a subida de preços de alimentos, serviços e bens duráveis tende a desacelerar.
Os chamados preços livres (que não sofrem controle do governo), dos quais fazem parte esses e outros itens (como vestuário), devem subir 5,8% em 2015, contra os 6,6% estimados para 2014, segundo a Tendências Consultoria.
Para Adriana Molinari, economista da Tendências, os juros mais altos e a desaceleração no emprego e na renda em 2015 vão ajudar a conter o consumo, pressionando menos os preços.
Vilão da inflação nos últimos anos, o setor de serviços já dá sinais de arrefecimentos nos últimos meses.
A previsão da Tendências aponta para um alta de 7,2%, abaixo dos 8,1% esperados para 2014.
Elson Teles, economista do Itaú, também vê espaço para altas mais moderadas dos serviços.
EFEITO INDIRETO
O especialista vê ainda um impacto indireto sobre esse setor. Como os salários e os aluguéis devem subir menos em 2015, os custos dos prestadores de serviços vão avançar num ritmo menor.
O banco espera uma taxa de 7,2% para os serviços, inferior aos 8,2% projetados para 2014.
No caso dos alimentos, diz, o clima tende a ser mais benéfico (sem uma seca tão severa como em 2014), além do fato de que a safra de grãos e os estoques devem se manter elevados no próximo ano.
Molinari crê em desaceleração dos preços dos alimentos num ano com menos "choques" e consumo mais moderado.
A economista ressalta, porém, que o grupo é "muito volátil" e vive uma fase --ainda resistente-- de fortes aumentos das carnes.
CÂMBIO
Apesar da expectativa de freada do preço dos alimentos, uma incógnita é o câmbio, que, se ultrapassar muito o patamar atual de R$ 2,70, pode impulsionar o custo dos produtos alimentícios cotados em dólar, como milho, trigo, soja e seus derivados.
O dólar mais caro pode ainda puxar para cima os preços de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e produtos de higiene e limpeza --produzidos no exterior ou com insumos importados.
Marcel Caparoz, da RC Consultores, diz, porém, que, com "um fraco nível de atividade econômica", os repasses de custos adicionais provocados pelo câmbio "tendem a ser menores".
Além do esfriamento do mercado de trabalho e dos juros, afirma, o ajuste fiscal a ser imposto pela nova equipe econômica também irá conter a velocidade da economia --o que ajudará a debelar pressões inflacionárias.
O economista diz que o governo terá de manter sua política de juros altos não só para segurar o consumo por meio do crédito mais caro.
Outro objetivo, diz, é evitar a saída de capital do país e, assim, pressionar ainda mais o câmbio, já que a maior parte dos países emergentes elevou juros e tende a atrair investimentos financeiros.