Consumo é recorde pouco antes do apagão
Ministro diz 'contar com Deus' para chover; operador afirma que houve 'corte preventivo de carga', e não blecaute
Carga de energia no Sudeste/Centro-Oeste atingiu pico histórico às 14h32, menos de meia hora antes do apagão
O consumo de energia nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil registrou recorde na tarde de segunda-feira (19), menos de meia hora antes do apagão em 11 Estados e no Distrito Federal, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Segundo o relatório, o pico da chamada carga de energia elétrica (o consumo efetivo somado às perdas nos sistemas de geração e distribuição) no Sudeste/Centro-Oeste, de 51.596 megawatts (MW), ocorreu às 14h32. A marca anterior havia sido obtida na terça-feira passada, de 51.295 MW. O corte de energia ocorreu por volta de 14h55.
Em todo país, porém, o consumo não atingiu o nível máximo. Ficou em 84.727 MW no chamado sistema interligado. O maior volume anterior tinha sido em 5 de fevereiro 2014: 85.708 MW.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse, contudo, que o corte de energia não ocorreu em razão do recorde de consumo. Segundo ele, um motivo ainda desconhecido provocou a queda da frequência com que giram as turbinas das usinas do sistema brasileiro e que culminou no desligamento automático de parte das térmicas no Sudeste do país.
Até o momento, mesmo após a reunião dos técnicos do ONS, Aneel, distribuidoras e geradores de energia na tarde desta terça-feira (20), não está claro o que provocou essa queda na frequência.
"Não houve apagão. O que houve foi um corte preventivo feito pelo operador para evitar o desligamento de maiores proporções", disse Chipp.
Já o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) disse que é preciso contar com Deus para que haja mais chuvas e, com isso, sejam recuperados os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas, o que garantiria mais tranquilidade no fornecimento.
"Deus é brasileiro. Temos que contar que ele vai trazer um pouco de umidade e chuva para que possamos ter mais tranquilidade ainda", disse ele, em tom de brincadeira.
Especialistas apontam que a frequência das turbinas é baseada no casamento entre demanda e oferta de energia. A frequência tende a cair quando as usinas estão muito demandadas e não têm como atender o consumo exigido sem sobrecarregar as máquinas.
Como as turbinas são projetadas para operar em uma frequência específica, 60 hertz no modelo brasileiro, alguns equipamentos desligam automaticamente para evitar o colapso.
Segundo Chipp, quando as 11 usinas, inclusive a térmica nuclear de Angra 1, pararam de funcionar, verificou-se que a linha que transporta energia excedente do Norte e do Nordeste para o Sudeste já estava operando com uma carga elevada.
Colocar mais energia nessa linha, disse, seria arriscado, já que uma falha nesse sistema de ligação, que tem funcionado diariamente por conta do baixo nível dos reservatórios do Sudeste, poderia ocasionar um corte de energia ainda maior.
Uma das características do SIN (Sistema Interligado Nacional) é a transferência do excedente de energia de uma região para outra que esteja com deficit de geração.
Descartada, portanto, a possibilidade de enviar mais energia do que já estava sendo transportada para o Sudeste, optou-se por cortar a energia de distribuidoras, a fim de reduzir a demanda e conseguir, portanto, "regularizar a frequência" do sistema.
DIVERGÊNCIA
Chipp discordou do ministro Eduardo Braga e descartou falha técnica ou humana no sistema e afirmou que há energia suficiente para abastecer o país sem riscos. Ele negou também a possibilidade de o operador fazer novos cortes nos próximos dias e disse que os técnicos já estão trabalhando para que uma queda na frequência não volte a acontecer.