Estímulo europeu pode superar € 1 tri
BC da zona do euro decide hoje medida para tentar tirar bloco do cenário de baixo crescimento econômico e deflação
Modelo de compra dos títulos dos países e quais ativos podem ser comprados ainda são alvo de polêmica
O Banco Central Europeu (BCE) planeja adquirir € 50 bilhões por mês em títulos de dívida nacionais dos países da zona do euro, por entre um e dois anos, como parte de seu programa de relaxamento quantitativo que será divulgado nesta quinta (22).
O banco central ainda não apresentou formalmente a proposta aos 25 integrantes de seu conselho, mas já discutiu a ideia da meta mensal com autoridades econômicas, segundo duas pessoas familiarizadas com o tema.
O programa europeu poderia durar um ano, chegando a € 600 bilhões em compras de títulos, ou dois anos, superando € 1 trilhão.
O plano, que segue os moldes do adotado pelos EUA em 2012, visa estimular uma economia que tem não só crescimento baixo (avanço de 0,2% do PIB no terceiro trimestre) como enfrenta deflação.
A longo prazo, a deflação é sintoma de fraqueza da economia, pois revela que os consumidores não estão dispostos a gastar e que as empresas precisam cortar gastos, gerando um ciclo negativo.
A ideia de que os 19 BCs da zona do euro arquem com o risco das compras de títulos governamentais, no entanto, deve ter forte oposição interna entre os chefes de BCs.
Por isso, a decisão sobre romper ou não a tradição estabelecida por esquemas precedentes de compras de títulos e abandonar o compromisso de dividir os riscos equitativamente entre os bancos centrais participantes deve ser tomada apenas no último momento.
Um funcionário do Ministério das Finanças italiano disse que havia "preocupação" em Roma sobre os bancos centrais nacionais arcarem com a responsabilidade por suas compras de títulos.
"Se o relaxamento quantitativo for realizado por fragmentação, não será efetivo nem coerente com uma Europa verdadeiramente unificada", disse o funcionário.
Michael Noonan, ministro das Finanças da Irlanda, expressou preocupações semelhantes.
O BC italiano se recusou a comentar. Mas Ignazio Visco, seu presidente, havia declarado no início do mês que se opunha aos esforços para eliminar o compartilhamento de riscos. "Faríamos bem em manter os procedimentos que usamos em todas as nossas intervenções de política monetária: o risco deve ser compartilhado por todo o sistema do euro", disse Visco.
PRESSÃO
Tanto a Alemanha quanto a Holanda estão pressionando por limites para o compartilhamento de quaisquer prejuízos realizados como parte de um programa de relaxamento quantitativo.
Jens Weidmann, presidente do Bundesbank (BC alemão), disse que o relaxamento quantitativo "levaria a uma redistribuição de riscos entre os contribuintes dos países-membros" se os riscos fossem compartilhados ou caso ativos com classificação de crédito inferior a AAA (os mais seguros, segundo as agências de classificação de risco) viessem a ser adquiridos.
O BCE deve adquirir títulos de dívida nacional com classificação BBB (que ainda mantêm o grau de investimento, ou seja, o selo bom pagador) ou mais elevada.
Os países cujos títulos não tenham grau de investimento só se qualificariam para o relaxamento quantitativo se implementassem programa de reforma. É provável que as condições sejam estabelecidas de forma a impedir que a Grécia participe desde o começo das compras de ativos.