Para Levy, modelo do seguro-desemprego está desatualizado
Em Davos, ministro diz que é preciso promover cortes em diversas áreas e que quer preservar programas sociais
Declaração foi mal recebida por centrais sindicais, que tentam negociar mudanças nas novas medidas
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse em entrevista ao jornal britânico "Financial Times" que o modelo brasileiro do seguro-desemprego está "completamente ultrapassado".
Em Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial, Levy disse que é preciso promover cortes em diversas áreas e que quer preservar os programas sociais.
Ele se referiu ao anúncio feito em dezembro sobre as regras mais rígidas para concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários.
Ao mencionar as mudanças no pagamento de benefícios sociais, Levy afirmou que havia um enigma no mercado de trabalho brasileiro.
"Tínhamos as menores taxas de desemprego da história, mas continuávamos registrando aumento dos benefícios. Mas não era devido a fraudes. Era por causa do modelo que estava completamente desatualizado. Então tivemos de ajustar", disse.
O governo espera que as novas regras, mais rígidas, gerem uma economia de R$ 18 bilhões neste ano. Incluídas em medidas provisórias, que ainda precisam ser aprovadas pelo Congresso, elas afetam também o acesso a pensão por morte, auxílio-doença e abono salarial.
As mudanças no seguro-desemprego, válidas a partir de março, estão entre as mais impopulares e vêm sendo criticadas pelos sindicatos.
REAÇÃO
As novas declarações de Levy foram mal recebidas pelas centrais sindicais, que vêm tentando negociar alterações nas medidas.
Para Ricardo Patah, presidente da UGT, o ministro da Fazenda mostrou desconhecer a realidade brasileira.
Miguel Torres, presidente da Força Sindical, afirmou que "ultrapassadas são as ideias do Levy, que acredita que ajustes devem ser feitos cortando direitos e implementando políticas restritivas que penalizam apenas os trabalhadores".
Reação semelhante veio da CUT. "Isso mostra que ele desconhece a realidade brasileira e, principalmente, o alto índice de rotatividade que existe no Brasil, de até 39% da mão de obra anual", disse o secretário de finanças da CUT, Quintino Severo.
A declaração de Levy ocorre poucos dias depois de um encontro, sem acordo, entre as centrais e o governo para debater o assunto.
Em reunião nesta semana com os ministros Nelson Barbosa (Planejamento), Trabalho (Manoel Dias) e Carlos Gabas (Previdência), em São Paulo, representantes de seis centrais sindicais pediram a revogação das medidas, por entender que elas consistem na perda de direito dos trabalhadores.
O pedido não foi atendido, mas o governo propôs uma negociação.
Em nota divulgada na noite de ontem, a Fazenda disse que a observação de Levy sobre a legislação do seguro-desemprego "teve como objetivo ampliar o debate pela modernização das regras desse benefício diante das transformações do mercado trabalho nos últimos 12 anos".