Tudo sobre Belo Monte
Maior aposta do setor elétrico do país atrasa
Usina no Pará, cuja primeira turbina entraria em ação neste mês, depende de remanejamento da população local
Folha visita obra um ano após reportagem multimídia sobre Belo Monte e constata atraso de pelo menos 9 meses
Terceira maior obra do PAC, com investimento previsto de R$ 28,9 bilhões em valores atuais, a hidrelétrica de Belo Monte depende de palafitas. Melhor dizendo, da demolição --até o fim de março-- de milhares desses casebres nas áreas alagáveis de Altamira (PA).
Belo Monte é também o maior empreendimento do setor elétrico no Brasil.
Deve acrescentar 11.233 megawatts (MW), mas só em 2019, à capacidade de geração instalada no país, de 133,9 mil MW, que já não está dando conta da demanda.
A Folha voltou a Altamira, um ano após a publicação da reportagem especial multimídia "A Batalha de Belo Monte" (folha.com/belomonte), para verificar seu andamento. A usina está atrasada, apesar dos 67% da obra civil realizados até meados de dezembro e de estar em marcha acelerada o reassentamento de moradores de áreas que serão alagadas.
A primeira turbina da casa de força auxiliar (total de 233 MW) deveria entrar em ação agora em fevereiro. Por causa das greves e invasões que interromperam as obras, isso foi adiado para novembro deste ano.
A concessionária Norte Energia S.A. (Nesa) ressalva que o atraso afeta uma turbina de baixa potência (38,8 MW). Menos de 0,4% da capacidade de Belo Monte. Na casa de força principal (11 mil MW) não haveria atraso, diz.
INCONGRUÊNCIA
No entanto, a empresa solicitou à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) isenção de responsabilidade pelos atrasos e prorrogação do cronograma de geração nas duas casas de força em 441 e 365 dias, respectivamente. Se não acionar as turbinas nas datas previstas, entre 2015 e 2019, teria de pagar pela energia que deixar de produzir.
O pedido foi analisado por procuradores e pela área técnica da agência, mas carece de decisão de sua diretoria.
"Não interessa à empresa que haja nenhum atraso, tanto que ela já arcou até agora, sozinha, com os custos para minimizá-los, antes de qualquer decisão da Aneel", afirma José Ramos Filho, superintendente de Relações Institucionais da Norte Energia.
"O que não se pode admitir é que os custos já incorridos, e outros potenciais referentes ao marco regulatório, recaiam sobre o investidor, que não teve responsabilidade sobre tais atrasos."