Na contramão da economia, avícolas do Paraná caçam mão de obra
Maior produtor de frango do país vive bonança após vendas saltarem 12% em 2014 ajudadas por inflação da carne e novos mercados
O carro de som passa devagar pelas ruas de Rolândia, norte do Paraná. Enquanto indústrias pelo país demitem e concedem férias coletivas, o megafone anuncia vagas em frigoríficos da região.
Mas nem "refeições, convênio com colégio particular e cesta de Natal", entre outros benefícios, atraem gente suficiente para suprir a demanda do setor, que tem crescido a dois dígitos por ano.
Em 2014, enquanto a economia brasileira estagnou, a venda de frangos no Paraná subiu 12%. Os frigoríficos têm expandido a produção, com a criação de novos turnos, e abriram 4.000 vagas.
"Acho que a avicultura é um oásis", diz o presidente do Sindiavipar (Sindicato das Indústrias Avícolas do Paraná), Domingos Martins.
Consolidado, o setor avícola no Paraná, o maior produtor e exportador de frangos do país, vive a bonança.
A diminuição de custos de produção, com a queda no preço dos cereais, ajudou o produtor a incrementar os lucros e a investir na expansão do negócio. A inflação da carne do boi e a abertura de novos mercados, como a China e o Paquistão, motivam o investimento e explicam o aumento das vendas.
"O que aparecer hoje no frigorífico nós contratamos", diz o gerente de RH da Granjeiro Alimentos, Egberto Jardinette. A empresa, com sede em Rolândia, dobrou a produção desde o ano passado. Até maio, tinha 850 funcionários. Hoje, são 1.450.
Para preencher as vagas ociosas, o frigorífico anuncia em jornais, faz panfletagem e contrata carros de som. O salário inicial é de R$ 1.200.
"Temos um batalhão de choque no RH", afirma Ciliomar Tortola, diretor da GTFoods, de Maringá. A empresa aumentou o abate em 30% no último ano e vai precisar de 1.500 novos funcionários até o ano que vem.
Não é uma tarefa fácil. Empresários se queixam de falta de mão de obra, desinteresse e alta rotatividade.
Muitos frigoríficos recorrem a pequenas cidades da região. As empresas oferecem transporte e percorrem até 45 km para buscar funcionários.
Em início de mês e às segundas-feiras, filas se formam em busca das vagas.
"Entre isso e o sol da roça, prefiro mil vezes isso", diz a desempregada Gisele dos Santos, 35, que tentava uma vaga na JBS de Rolândia.
Outros dizem estar ali por falta de opção: "É o único lugar que contrata", afirma Valquíria Marques, 24.
A perspectiva é que o setor cresça 6% no Paraná neste ano e 3% no Brasil. Mas sob um delicado equilíbrio.
As apostas de investimento, porém, dependem da estabilidade do mercado e da contratação de mão de obra.