Ferreira exige balanço para aceitar cargo na Petrobras
Presidente da Vale é indicado para comandar conselho da petroleira
Enquanto resultados não são divulgados, presidente do BNDES fica interinamente na chefia do colegiado
O governo Dilma oficializou a indicação do presidente da Vale, Murilo Ferreira, para comandar o conselho de administração da Petrobras.
Ele ocupará a presidência do órgão e seu nome será aprovado em assembleia ordinária da estatal convocada para o dia 29 de abril.
Ferreira impôs condição: só aceitaria a missão após a divulgação dos balanços do terceiro e do quarto trimestre de 2014 com o aval do auditor independente da petroleira.
Por isso, foi nomeado interinamente o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para comandar o conselho na reunião de quinta-feira (26) do colegiado.
Ferreira era o preferido de Dilma Rousseff para presidir a estatal, mas conseguiu contornar a situação, dizendo que a Vale também vivia uma fase difícil com a queda do preço do minério de ferro.
Apesar de também ter mostrado resistência inicial, o executivo não teve, porém, como recusar um convite pela segunda vez e o chamado pessoal da presidente.
Na prática, a assembleia de abril será apenas uma formalidade, pois a União tem a maioria dos votos e elege os seus indicados.
A expectativa é que até lá o balanço seja divulgado e inclua perdas oriundas de corrupção --uma metodologia de cálculo ainda está sendo aplicada para chegar a um valor.
A PwC, auditoria independente contratada pela Petrobras, não deu aval ao resultado do terceiro trimestre porque é necessário que sejam dadas baixas a valores indevidamente lançados como ativos, mas que, na verdade, foram desembolsados para pagamento de propinas, de acordo com o esquema revelado na Operação Lava Jato.
Pelo mesmo motivo, a empresa também não conseguiu entregar, ainda, o resultado de 2014 auditado.
A Petrobras busca um novo modelo para fazer a conta, depois que a metodologia apresentada em janeiro, que apontava necessidade de baixa de R$ 88,6 bilhões, foi descartada.
A conta foi ignorada porque considerava também perdas decorrentes de questões operacionais, de mercado (como a queda do petróleo) e de câmbio, por exemplo.
Auditores independentes dizem que não é praxe aceitar apenas depoimentos de uma fonte para mensurar as perdas com corrupção.
Mas, no caso da Lava Jato, há convergência de números apresentados pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e o ex-gerente Pedro Barusco com os relevados por diretores de empreiteiras.
Com esse cruzamento, pode-se chegar a um núme- ro mais palatável e aceito pela PwC.