Análise
Diante de cenário ruim, número do PIB de 2014 é um 'falso positivo'
O que podemos tirar de lição dos dados do PIB do último trimestre de 2014?
Em primeiro lugar, o consumo das famílias, que avançou 0,9% ante o 4° trimestre de 2013 e 1,1% na margem, teve um comportamento relativamente robusto quando se imaginava que a ressaca eleitoral e a alta da taxa básica de juros já estivessem tirando seu dinamismo.
No entanto, não há muito a comemorar. Dados do mercado de trabalho de fevereiro já apontam um leve aumento no desemprego e diminuição do rendimento médio real. O ajuste fiscal será, no curto prazo, no salário da maioria da população, e isso se concretiza aos poucos.
O investimento tombou em 2014, e o recuo da formação bruta de capital fixo foi de quase 6% em relação ao mesmo período de 2013. Temos assim uma combinação perversa de baixo investimento decorrente da piora da eficiência marginal do capital, dado o quadro pior das expectativas empresariais.
Nesse sentido, 2014 foi lido pela classe empresarial como o de início de um ajuste e se configura como o fim de uma aliança com o governo.
A ascensão da nova classe C não se traduziu de forma virtuosa em investimentos, mas se degenerou em inflação. O empresariado não entendia como adequadas as novas taxas de retorno reprimidas pela elevação de custos.
O Planalto fracassou em reverter essa visão, e o ajuste em curso tornará no curto prazo ainda mais difícil.
Por fim, as exportações afundaram 12% no 4º trimestre, evidenciando que o setor externo terá de passar por um ajuste por meio do câmbio. As importações caíram 5,5%.
No mais, temos uma falsa boa notícia: o PIB de 2014 revela componentes que já estão se deteriorando, como o consumo das famílias, e que já estão em ajuste, como os investimentos. O setor externo continua a preocupar.
É hora de deixar os bons modos comerciais de lado. O real tem que se desvalorizar.