Conselheiro critica 'incapacidade' de divulgar balanço e deixa empresa
Ainda sem conseguir compor seu novo conselho de administração apenas com pessoas de renome, a Petrobras sofreu um revés com o anúncio do conselheiro Mauro Cunha, que decidiu não concorrer a um novo mandato.
Em carta, o executivo disse que tomou a decisão diante da "incapacidade do acionista controlador [a União] em agir com o devido grau de urgência para reverter os inúmeros problemas que trouxeram a Petrobras à situação atual" e pelos "abusos cometidos contra a companhia".
O executivo faz referência indireta à incapacidade da estatal de apresentar um balanço auditado, à alta do endividamento (em boa medida para atender ao desejo do governo de manter projetos não rentáveis) e aos atos de corrupção, vindos à tona com a Operação Lava Jato.
Segundo ele, essa incapacidade ficou mais "evidente com as propostas levadas à Assembleia-Geral de Acionistas de 2015". A reunião não prevê a aprovação do balanço auditado --o problema mais urgente da estatal--, mas inclui um aumento de remuneração de 13% à diretoria da empresa, que vive a maior crise de sua história.
Ao final da carta, Cunha agradece a "honra e confiança" depositada a ele e segue atirando: "Faço votos de que a comunidade de acionistas e trabalhadores defendam a Petrobras dos abusos cometidos contra a companhia".
Cunha estava havia dois anos no conselho da Petrobras. Ele é um dos dois conselheiros que representam os acionistas minoritários. No caso, os detentores de ações ordinárias (com direito a voto).
O representante dos minoritários donos de ações preferenciais (com preferência no recebimento de dividendos) é o economista e consultor José Monforte.
Essas são as duas únicas vagas no conselho de administração cuja indicação não cabe à União, controladora da Petrobras. Ao todo, o colegiado tem dez integrantes.
Procurado, Cunha disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não irá se pronunciar até a assembleia de acionistas, em respeito à lei das S.A.s, que determina sigilo dos membros do conselho.
A Folha apurou, porém, que na ocasião ele fará um balanço sobre sua gestão e deve intensificar as críticas à ação do governo na empresa e à gestão atual da estatal.
Além da incapacidade de chegar a um cálculo das perdas com corrupção, o conselheiro se irritou com o fato de nomes de membros do conselho serem divulgados antes de serem discutidos em reunião formal do colegiado.