Petrobras toma crédito de US$ 3,5 bi com a China
Condições não foram reveladas, mas podem ter contrapartidas
Desvalorização do real em relação ao dólar acelerou a necessidade de captação de recursos pela empresa estatal
Sob ameaça de chegar a dezembro com um caixa em situação pior do que o previsto anteriormente --próximo ao piso de R$ 10 bilhões adotado prudencialmente-- e com dificuldades de acesso ao mercado de crédito internacional, a Petrobras obteve um empréstimo de US$ 3,5 bilhões na China.
O contrato do empréstimo foi assinado pelo diretor financeiro, Ivan Monteiro, com o CDB (Banco de Desenvolvimento da China), nesta quarta-feira (1º).
Um acordo de cooperação entre Petrobras e CDB vai vigorar por dois anos.
A Petrobras não informou as condições do empréstimo.
Uma pessoa próxima às negociações com a China afirmou que os juros "não são diferentes do resto do mercado", mas que se trata de operação mais "trabalhosa" porque exigiu contrapartidas comerciais.
A Petrobras vinha conversando com a China desde o ano passado. Na ocasião, a petroleira lembrava ao CDB que estaleiros chineses concluiriam plataformas da estatal, com construção atrasada.
A negociação também pode ter envolvido contrato de venda de petróleo, como em 2009, quando a Petrobras captou US$ 10 bilhões com a mesma instituição.
No começo de março, o conselho de administração da empresa havia dado aval para a captação de até US$ 19 bilhões neste ano, diante das perspectivas ruins.
Em janeiro, ainda sob a gestão da então presidente Graça Foster, a Petrobras havia informado que, com cortes nos investimentos e o fim da defasagem no preço dos combustíveis, a empresa conseguiria atravessar o ano sem captar recursos no exterior. Na ocasião, o caixa estava em cerca de R$ 22 bilhões.
Evitar recorrer ao mercado era importante porque, sem balanço de 2014 auditado e com a perda do "grau de investimento", a empresa teria de pagar mais juros.
EFEITO DO CÂMBIO
As perspectivas deterioraram-se em razão da desvalorização do real. A empresa sofre com o câmbio, já que, considerando o saldo da compra e venda de petróleo e derivado com outros países, importa mais do que exporta.
O dinheiro chega no momento em que a empresa deixa de se beneficiar do preço menor do barril, que caiu de US$ 110 para US$ 45 entre julho de 2014 e janeiro.
Calcula-se internamente, na Petrobras, perda acumulada entre R$ 80 bilhões e R$ 90 bilhões com a defasagem dos preços do combustível no Brasil nos quatro anos de controle de preços.
Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura, a gasolina brasileira já está 2% mais barata do que se fosse vendida lá fora. O diesel ainda mantém preços 11% acima da cotação externa.
O novo patamar de preços ameaça projetos do pré-sal, mas vinha permitindo que a a gasolina e o diesel fossem vendidos em vantagem em relação à cotação externa.