Adesão do país a banco asiático é questionada
Analistas indagam se o Brasil tem fôlego político e financeiro para integrar instituição
O anúncio de que o Brasil será membro-fundador do novo banco asiático de investimento liderado pela China causou surpresa e certa estranheza entre especialistas.
A questão é se o país tem fôlego político e financeiro para integrar mais uma instituição multilateral, enquanto vive instabilidade política e desaquecimento econômico.
Lançado em Pequim em outubro, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês) visa financiar projetos de infraestrutura, principalmente na região. A expectativa é que entre em operação em 2016, com capital inicial de US$ 50 bilhões, podendo chegar a US$ 100 bilhões.
Segundo diplomatas, a tendência é que a participação brasileira seja "simbólica". Mesmo assim, embarcar no projeto deixou muita gente intrigada.
"Fiquei surpreso, porque o Brasil já tem muito com que se preocupar, incluindo o seu comprometimento com o Banco dos Brics e todos os desafios domésticos, como a economia" disse Matt Ferchen, especialista em relações China-América Latina da Universidade Tsinghua, em Pequim. "Acho que o motivo foi mostrar apoio à China. Se foi por pressão ou desejo espontâneo, não sei."
Para Ferchen, a sensação é que o Brasil já tem um desafio grande no Brics para querer se lançar em novos projetos. Criado em julho em Fortaleza, o Banco de Desenvolvimento dos Brics terá capital inicial de US$ 50 bilhões, dividido igualmente entre os membros (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Mas a entrada do país no banco --incluindo o aporte de US$ 10 bilhões-- ainda não foi ratificada pelo Senado.
Margaret Meyers, diretora para relações China-América Latina do centro de estudos Inter-American Dialogue, também ficou surpresa com a decisão. "Diante das dificuldades econômicas que o Brasil vive, acho que não será politicamente fácil vender a ideia de aderir a um novo banco de desenvolvimento."
Para a China, o AIIB é a maior vitória diplomática em muito tempo. Lançado inicialmente por 21 países, o banco provocou uma corrida de interessados, incluindo as maiores economias da Europa, apesar da oposição ativa dos EUA. Segundo o jornal "China Daily", 30 países foram aprovados como membros-fundadores. O número será confirmado no dia 15.
Nos cálculos do Brasil ao entrar no AIIB, há a dimensão econômica --o interesse de estar presente no mercado que mais cresce no mundo-- e outra política --uma reação à resistência dos EUA em aprovar a reforma das instituições multilaterais, como o FMI. Um fato pouco conhecido é que o Brasil foi vetado por EUA e Japão quando pediu para ser membro do Banco Asiático de Desenvolvimento, há alguns anos.