"Comércio social" é nova coqueluche de consumidor na China
Consultor diz que há boa oportunidade para brasileiros que produzam alimentos
Com 630 milhões de usuários de internet, a China não tem apenas o maior mercado on-line do mundo, mas também um dos mais inovadores e dinâmicos. Uma tendência em alta é o "comércio social" o casamento entre o e-commerce e as redes sociais.
No ano passado, as vendas on-line no varejo cresceram 49,7% atingindo US$ 450 bilhões (R$ 1,3 trilhão). O ritmo é tão rápido que o chefe do escritório de estatísticas da China, Ma Jiantang, destacou o setor como um ponto de luz em meio à desaceleração da segunda maior economia do mundo. "É ali que reside nossa esperança", disse ele, numa referência ao plano do governo de fazer do consumo o motor principal da economia.
O amplo acesso a celulares e a febre do serviço de mensagens WeChat criaram um ambiente de comércio muito particular. De fenômeno social, o WeChat está virando um caixa eletrônico.
Semelhante ao WhatsApp, mas com recursos que lembram o Facebook (bloqueado na China), o WeChat é usado não só para mandar mensagens, mas também fazer pagamentos e transferências de dinheiro. Basta que o usuário conecte suas contas do WeChat e do banco.
Como o serviço funciona entre grupos de amigos, a confiança é maior. E surgem novas iniciativas.
Um estudo da consultoria McKinsey conta que, no ano passado, milhares de comerciantes criaram no WeChat grupos semiprivados de 50 a 100 pessoas, que traziam seus amigos para vender diversos produtos, de alimentos orgânicos a roupas.
Um dos dados interessantes do estudo é que os alimentos estão no topo dos produtos mais comprados: são 53%. Para grandes produtores, como o Brasil, é uma grande oportunidade, diz Jacob Cooke, CEO da consultoria Web-Presence-in-China.
"Há uma oportunidade incrível para produtos agrícolas, especialmente de luxo", disse à Folha. "É uma excelente oportunidade para produtos brasileiros, porque não têm concorrência. Mas é preciso ter muito conhecimento e uma boa logística."
Um dos principais desafios é o tempo de entrega. Os consumidores chineses estão habituados a esperar no máximo dois dias para receber o produto comprado on-line.
Nesse ponto os exportadores americanos tem levado vantagem, afirma Cooke.
Mas é preciso cuidado e conhecimento para reconhecer as armadilhas do e-commerce chinês. Uma pesquisa do próprio governo indicou que metade dos produtos à venda on-line é falsa. Jacob Cooke vai além: muitos dos números do setor são falsos, inflados artificialmente pelas empresas.