Poupança tem saldo negativo pelo 3º mês e perdas somam R$ 23 bi
Cenário não deve afetar financiamento imobiliário porque apetite por crédito também diminuiu
Fuga decorre da necessidade de pagar dívidas, dificuldade de poupar e busca por maior rentabilidade
A poupança, principal fonte de recursos para o financiamento imobiliário no país, perdeu em março depósitos pelo terceiro mês seguido. Neste ano, a poupança teve R$ 23,2 bilhões em saques, já descontados os depósitos.
A sangria da caderneta só não preocupa os bancos e a construção civil porque o apetite por novos financiamentos também diminuiu.
Em março, os saques superaram os depósitos na poupança em R$ 11,4 bilhões. Foi o pior resultado nominal (sem correção pela inflação) para esse mês desde março de 1995, início da série histórica do Banco Central.
À época, a poupança tinha R$ 47,2 bilhões (hoje seriam R$ 187,9 bilhões, corrigido pelo IPCA), enquanto o volume atual soma R$ 650,3 bilhões.
A debandada da poupança ocorre desde janeiro, quando a aplicação passou a perder da inflação. No mês passado, a caderneta rendeu 0,63%, abaixo da inflação de 1,4% prevista para o IPCA --o resultado do índice oficial de inflação será conhecido nesta quarta-feira (8).
De janeiro a março, o ganho da caderneta foi de 1,75%, ante 2,48% do IPCA acumulado de janeiro a fevereiro.
A perda de recursos da poupança ocorre ao mesmo tempo em que crédito imobiliário no país se desacelera. Por isso, ainda está longe de afetar a oferta de financiamento nos bancos; 65% dos depósitos da poupança devem ser aplicados no financiamento da casa própria.
Em fevereiro (dado mais recente disponível), foram financiados R$ 6,45 bilhões em imóveis --27% menos do que em fevereiro de 2014 e 29,4% abaixo de janeiro deste ano, segundo a Abecip (associação do crédito imobiliário).
"A fonte de recursos é uma preocupação constante do mercado imobiliário, que procura alternativas além da poupança. Mas os bancos estão ainda confortáveis porque diminuiu a procura por financiamentos", disse Marcelo Prata, do Canal do Crédito, site que compara taxas de empréstimo imobiliário.
A perda de recursos da caderneta reflete também a retirada de dinheiro para o pagamento de dívidas, a dificuldade do brasileiro de poupar diante da alta do custo de vida e a busca por aplicações com maior retorno.
"O investidor busca alternativas para se proteger da inflação e do baixo retorno de outras aplicações", disse Ricardo Magalhães, da Cetip.
Os fundos de investimento perderam R$ 2,67 bilhões em aplicações de janeiro a março. Já o volume de Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA), que são isentas de Imposto de Renda, cresceram R$ 19,6 bilhões e R$ 5,6 bilhões no período.