Agência ameaça retirar selo de 'bom pagador' do Brasil
Fitch coloca nota em perspectiva negativa, devido a PIB fraco e dificuldade do governo de implementar reformas
Governo está preparado para tomar "todas as medidas" e evitar um rebaixamento, afirma Joaquim Levy
O desempenho econômico abaixo do esperado e a dificuldade do governo em implementar as reformas necessárias no país fizeram com que a agência de classificação de risco Fitch sinalizasse nesta quinta-feira (9) que pode rebaixar a nota do Brasil.
Hoje, o país é classificado pela agência como grau de investimento --uma espécie de selo de "bom pagador", que indica que o país é um local seguro para investir.
A Fitch, no entanto, mudou a perspectiva da nota atribuída ao Brasil (BBB) de estável para negativa, o que significa que pode haver rebaixamento do rating caso as condições econômicas não melhorem. Uma nova decisão sobre a nota do país deve acontecer em um período de 12 a 18 meses.
"A performance econômica do Brasil deixa a desejar quando comparada à de outros países com a mesma nota", afirmou Shelly Shetty, diretora sênior de ratings soberanos da Fitch, à Folha.
A agência aponta que o crescimento médio do país nos últimos três anos foi de 1,5%, comparado com a mediana de 3,2% de outros países que têm a mesma classificação de risco. E a previsão, neste ano, é que haja contração de 1% no PIB brasileiro.
Além disso, diz a Fitch, a inflação elevada e os "deficit gêmeos" (rombos nas contas externas e no Orçamento) ressaltam os desequilíbrios macroeconômicos no país.
"Tivemos ainda uma deterioração fiscal mais rápida do que o esperado", disse Shetty. "Sabemos que o governo anunciou suas intenções para consolidar as contas, mas ainda há desafios para atingir a meta por causa da contração econômica neste ano e das dificuldades potenciais para aprovar as medidas fiscais no Congresso."
A diretora da agência citou ainda que o cenário base da Fitch considera o impacto político e econômico das investigações de corrupção da Petrobras. Mas não prevê uma aceleração na dívida externa da companhia, o que exigiria um resgate do governo federal --prejudicando ainda mais as contas públicas.
De acordo com a diretora da Fitch, para voltar a ter perspectiva estável, o Brasil precisará aumentar a credibilidade das políticas do governo. "Isso obviamente facilita a redução dos desequilíbrios macroeconômicos e ajuda na estabilização."
GOVERNO PREPARADO
Depois do anúncio da Fitch, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que o governo está preparado para tomar "todas as medidas" e evitar um rebaixamento na nota de crédito do país.
O ministro disse que o governo irá cumprir a meta de superavit primário --economia para pagar os juros da dívida--, apesar da expectativa de recessão neste ano. "Vamos cumprir o que a gente tem que fazer. Vamos trabalhar. Temos de criar condições para retomar e crescer."
No mercado financeiro, o não rebaixamento da nota do país foi bem recebido. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, caiu 1,18%, para R$ 3,044. A Bolsa fechou em leve alta de 0,26%.
O Brasil mantém o selo de bom pagador nas principais agências de classificação. Recentemente, a agência S&P deixou inalterada a nota do país, no último degrau na escala de grau de investimento.