Analistas mais certeiros veem inflação com maior pessimismo
Instituições que mais acertam em pesquisa do BC apontam alta de 8,7% neste ano, ante mediana de 8,1%
Diferença é explicada por motivos como impacto da retração do PIB sobre os preços, afirmam especialistas
As instituições que mais acertaram as projeções de inflação nos últimos meses estão mais pessimistas em relação ao comportamento dos preços em 2015 e 2016, de acordo com a pesquisa semanal feita pelo BC com membros do mercado financeiro.
Nas previsões desse grupo, chamado de "Top 5", a estimativa de inflação ao fim deste ano subiu para 8,73%, bem acima dos 8,13% apurados pelo Banco Central considerando a mediana de todos os participantes da pesquisa.
Para 2016, a diferença é maior: 5,60%, para o mercado em geral, e 6,40%, para as cinco instituições mais certeiras sobre esse indicador.
Essa discrepância aumentou nas últimas quatro semanas, com a entrada de novas instituições nesse ranking.
Entram nessa lista, que é atualizada mensalmente, as instituições cujas projeções ficaram mais próximas da inflação verificada nos últimos seis meses.
Economistas dessas instituições dizem que a diferença de projeções é explicada, por exemplo, por expectativas diferentes para o efeito que a queda na atividade econômica tem sobre os preços.
Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset Management, gestora de recursos que está nesse ranking, espera uma desaceleração econômica maior do que a apontada pelo mercado para este ano e o próximo. E projeta uma inflação maior: 8,7% neste ano e 6,1% no próximo.
"Não vejo uma desinflação tão forte como outros colegas do mercado e o BC", afirmou. "Essa dinâmica de mercado de trabalho enfraquecendo e afetando a inflação de serviços ainda vai demorar."
Outro fator, segundo ele, é que a inflação deste ano terá componentes que pesam para o consumidor e também para toda a cadeia produtiva e de serviços. É o caso do preço de energia e combustíveis.
Além disso, uma inflação de quase 9% neste ano terá um impacto forte sobre o comportamento de preços no ano que vem, num fenômeno que os economistas chamam de efeito inercial.
No ano passado, a inércia inflacionária respondeu por 11% do IPCA. As expectativas de inflação, uma das principais preocupações do BC, tiveram o mesmo peso.
O economista da Franklin Templeton Investimento Vagner Alves também está na nova lista do Top 5. Suas projeções, no entanto, são de inflação menor que a do mercado neste ano (7,8%) e abaixo da verificada em seu grupo (5,6%) para 2016.
"A gente vê uma desaceleração mais forte da inflação de serviços por causa da desaceleração da economia e do efeito que ainda haverá sobre o mercado de trabalho e o impacto disso nos preços."
"Nossa projeção de PIB é similar à do mercado, 1% de queda em 2015, mas somos mais otimistas sobre o efeito da contração nos preços."