México produz mais carros que Brasil
De olho no mercado externo, montadoras mexicanas elevam produção, enquanto brasileiras cortam funcionários
Crescimento dos EUA, aumento do consumo e interno e salário baixo explicam interesse de grandes marcas
Com o anúncio de mais investimentos internacionais para a instalação de fábricas em seu território, o México desponta como o maior produtor de carros da América Latina, superando o Brasil.
Na semana passada, a Toyota anunciou a construção de uma fábrica, em Guanajuato, enquanto a Ford declarou que expandirá a que possui, em Chihuahua, e construirá outra. No total, investirão US$ 3,5 bilhões.
Os anúncios somam-se a uma série de investimentos recentes feitos também por Nissan, Honda, Mazda, BMW e Audi. A Toyota ainda anunciou que transferirá a fabricação do modelo Corolla, antes realizada no Canadá, para o México. Assim, o país também se estabelece como o sétimo produtor e quarto maior exportador mundiais.
A produção mexicana desbancou a brasileira no ano passado e continua em ritmo mais forte neste início de ano.
As fábricas mexicanas aumentaram sua produção em 9,6% no primeiro trimestre deste ano, enquanto as montadoras, em meio a cortes de funcionários (reflexo do momento difícil da economia do país), reduziram em 16,2%.
Hoje, para cada 10 veículos que saem das linhas de montagem mexicanas, 8 são produzidas no Brasil. Em 2013, essa diferença era exatamente o oposto.
A perspectiva de crescimento entre 3,5 e 4%, da economia mexicana, atrelada ao sucesso da reforma energética que privatizou parte das explorações petrolíferas, e a leve redução da taxa de desemprego (atualmente em 5%) ajudam a compor o contexto favorável da indústria automotiva local.
À Folha o ministro de Economia, Ildefonso Guajardo, evitou analisar o bom momento em detrimento da desaceleração de outros produtores da América Latina, como Brasil e Argentina.
"Nenhuma notícia sobre a desaceleração econômica de um outro país da região pode ser boa para o México. Mas estamos apostando no aumento do nosso mercado interno e nas vendas aos EUA."
SALÁRIO MENOR
A boa onda da indústria automotriz mexicana tem como principais razões o aumento da demanda dos EUA (segundo maior mercado consumidor global, após a China), os salários menores dos trabalhadores (a indústria automotriz paga US$ 10 a hora no México, nos EUA são US$ 58) e um vertiginoso aumento do consumo interno.
"Os mexicanos estão comprando cada vez mais carros e passaram a consumir não apenas os veículos de baixo custo", diz Guajardo.
O aumento nas compras de carros dos mexicanos corresponde a 21%, sob influência, também, da facilitação para a compra de modelos usados dos EUA. Esta última medida causou, entre outras coisas, uma menor procura por parte dos veículos econômicos antes comprados do Brasil.
O ministro acrescenta que a meta do governo é que o país produza 5 milhões de carros até 2020, estabelecendo-se como um dos cinco maiores produtores do planeta.
"O tratado de livre-comércio com os EUA, assinado em 1994, é fundamental para explicar o atual sucesso."